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O PROCESSO DE UP.BfíHlZfíCROs

Transcendental mente Estivei Par*

Uma 1 marten temente Instável

E, apesar das mudanças que assinalam a transição para a Idade Média (39), os aspectos econômicos

2.5.4. O PROCESSO DE UP.BfíHlZfíCROs

Um importante efeito do surgimento do mer-ador itinerante foi a gradual urbanização da vida me vai, a criação de novas cidades e povoados. De fato, à medida que se expandia o comércio, surgiam cidades nos locdis em que duas estradas se encontravam, ou na embocadura de um rio, ou ainda onde a terra apresentava um declive adequado. Tais era» os lugares que os mercadores procuravam.

Neles, além disso, havia geralmente uma igreja, ou uma zona fortificada chamada "burgo" que assegurava proteção em caso de ataque. Mercadores errantes descansando nos intervalos de suas longas viagens naturalmente se deteriam próximo aos muros ;'ü uma fortaleza, ou à sombra da catedral. £ como um número cada vez maior de mercadores se reunia nesses locais, criou-se um "fauburg" ou "burgo extramural" (HUBERMfíN, 1985, pp. 35-36). Certo é que o lento crescimento, quase espontâneo, da vida urbana tornou-se fator relevante para ã expansão da vida econômica européia.

Joan Robinson, a propósito, observa que

" ...em centros localizados aqui e aii pelo mundo (...) desenvolveu-se uma burguesia, isto ê, uma comunidade de habitantes de cidades que auferia uma renda das atividades comerciais e desfrutava de um grau d*

independência maior ou menor da corte e dos poderes feudais"

(ROBINSON, 1971, p. 55).

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Todavia, ao lado do mercador itinerants e do surto das cidades, um outro talvez mais importante -fator contribuiu para a expansão das fronteiras econômicas européias no período medieval - Trata-se dos cercamentos, das demarcações de terras, que tem lugar principalmente na Inglaterra.

2.5.5. 0 PROCESSO BE CERCfíMENTOSl

Por mais que tentassem, os senhores feudais nSo podiam sustar- o processo de desenvolvimento agrário, fí velha organização feudal rompeu-se sob pressão das forças econômicas que nSo podiam ser controladas.

O fato de que a terra fosse comprada, vendida e trocada 1ivremente, como outra mercadoria, determinou o fim do antigo mundo feudal. Forças atuando no sentido de modificar a situação varriam toda a Europa ocidental, dando-lhe uma face nova " (HUBERMfíN, 1985, p.

61)% é certo, também, que consideravam-se perniciosos alguns dos efeitos das transformações que se processavam nos campos europeus. Com efeito, o fechamento de terras que ocorreu em certas proporções na Europa, principalmente na Inglaterra, fora um sistema prejudicial, pois o lavrador empreendedor e din&mico não podia trabalhar num ritmo próprio, ou tentar experiências novas; tinha de se adpatar ao ritmo dos que trabalhavam faixas de terras contíguas à sua. Surgiu, por isso, em alguns lugares, o b&bito de trocar faixas. Um homem de sorte, ou esperto, poderia conseguir unificar todas as suas faixas, reunindo-as numa única propriedade compacta. A medida seguinte era colocar una cerca em volta da propriedade ou propriedades. 0 que antes era campo aberto, tornava-se um campo fechado - isto ê, cercado (HUBERHfíH, 1935, p. 214>.

Contudo, o prejuízo maior resultou do fato de que os cercamentos dos campos abertos (enclosures) levaram as terras anteriormente cultivadas a serem convertidas em pastagens.

Karl Polanyi assevera, a propósito, que

"...os cercamentos seriam um progresso óbvio £g, não ocorresse a conversão Ás pastagens. /) terra cercada valia duas ou três vezes a não-cercada. Nos lugares onde se continuou a cultivar a terra, ntko diminuiu o emprego » o suprimento dm alimentos aumentou de forma marcante "

(POLfíNVl, 2930, p. 52).

fís cercas atrás das quais a terrm continuava a ser lavrada, n&o prejudicavam a ninguém 9 levavam a um melhoramento na produção. Has havia uma cerca de outro tipo que prejudicou a milhares de pessoas'* a cerca para a criação de ovelhas. Como o preço da 1& subira muitos

ovelhas. Enquanto para o senhor isso significava mais dinheiro, significava também a perda do emprego e do meio de vida dos lavradores que haviam ocupado a terra que passava a ser cercada. Para cuidar de ovelhas, é necessário um número de pessoas menor do que para cuidar de uma fazenda - e os que sobravam ficavam desempregados. Muitas vezes, o senhor achava que para reunir numa só Area as várias propriedades espalhadas tinha de expulsar os arrendatários de cujas terras necessitava (HUBERHfíN, 2935, p. 114).

fís conseqüências sociais dos cercamentos também foram colocadas em relevo por Pol anyi*

* Os cercamentos foram chamados, de forma adequada, de revolução dos ricos contra os pobres. Os senhores e nobres estavam perturbando a ordem social, destruindo as leis e costumes tradicionais, &s vezes pela violência, às vezes por press&o e intimidação. Eles literalmente roubavam o pobre na sua parcela de terras comuns, demolindo casas que até então, por força de antigos costumes, os pobres consideravam como suas e de seus herdeiros. O tecido social estava sendo destruído} aldeias abandonadas e ruínas de moradias humanas testemunhavam a ferocidade da revolução, ameaçando as defesas do pais, depredando suas cidades, dizimando sua população, transformando seu solo sobrecarregado em poeira, atormentando seu povo e transformando-o de homens e mulheres decentes numa malta de mendigos e ladrões " (POLfíNYI, 1990, p. 52).

Havia um aspecto ainda mais desumano da demarcação. Como os campos comuns foram cercados, tornou-se ainda mais difícil para o arrendatário mantê-los. />

princípio vagarosamente, depois com crescente rapidez, se viu ele pressionado para fora da terra, até que nos séculos XV e XVI, quando a demarcação dos campos comuns atingiu o auge, de 3/4 a 9/10 dos arrendatários de algumas propriedades tinham sido expulsos da terra (HílLBRONER,

1974, p. 83).

Ora, a expulstko dos arrendatários de suas terras implicou o deslocamento de numerosos contigentes de camponeses destituídos de suas tradicionais fontes de renda para as cidades. Com efeito, como as terras demarcadas transformaram os camponeses em trabalhadores sem terra tornara-se impossível ao número crescente da população apinhar as terras através da fragmentação das propriedades familiares (ROBIHSOH, J971, p. 62).

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físsim, o cere amen to de terras levou "grande porção da classe agrícola desterrada das grandes propriedades fundiárias <a empreender) o caminho das cidades em busca de trabalho. Isso provocou o crescimento da população urbana " (HE1LBRONER, 1974, p. 83).

Wâo obstante, nSo foram o deslocamento dos camponeses para as cidades e o inchamento destas os principais efeitos dos cercamentos. 0 resultado fundamental desse processo viria a ser a "disponibilidade" de »âo de obra para a indústria emergente. " 0 movimento de fechamento das terras provocou muito sofrimento - observa Huberman - mas ampliou as possibilidades de melhorar a agricultura. £ quando a indústria capitalista teve necessidade de trabalhadores, encontrou parte da mà\o-de-obra entre esses infelizes desprovidos de terra, que haviam passado a ter apenas a sua capacidade de trabalho para ganhar a vida " <HUB£RHftN, 19SS, p. 119).

Todavia, antes que se aborde o tema do desenvolvimento industrial - que no final vai absorver os camponeses expulsos das terras cercadas - cumpre que se busque esclarecer as mudanças operadas na esfera moral.

Parte significativa das transformações econômicas do fim da Idade Média pode ser atribuída a alteração no clima reiigioso e intelectual da época, que passariko - por~ raz&es a serem investigadas - a Justificar as outrora condenáveis

usura e avareza, mas virtudes da nova ordem social emergente.

2 .&. ft Avareza, Moralmente Condenável, Alcança Justificativa Na Repress&o fíos Componentes Destrutivos Da Natureza Humana

2.6.1. INTRODUÇÃO*

Parece que a quest&o fulcral, colocada melhor por Max Neber do que por qualquer outro estudioso das razões que levaram à formaç&o de um "espirito do capitalismo", és

" Como ê que uma atividade, que era, na melhor das hipótese, eticamente tolerada, transformou-se em uma vocação...? Como se explica historicamente o fato de no centro mais altamente capitalista daquela época, em Florença, nos séculos XIV e XV - o mercado de dinheiro e de capital de todos os grandes poderes políticos - fosse considerado eticamente perigoso****, ou fosse quando muito tolerado, aquilo que, nas retrógradas circunstâncias pequeno-burguesas da Pensilv&nia do século XVIII, onde a economia se via ameaçada, pela simples falta oe dinheiro, a regredir ao primitivo estágio de troca, onde dificilmente havia um sinal de grande empresa, onde podiam ser encontrados apenas os primórdios de um sistema bancário, a mesma coisa fosse considerada moralmente digna de louvor e pudesse eqüivaler a uma norma de vida? Falar aqui de um reflexo das condições "materiais" sobre a "superestrutura ideal" patentemente insensato. De que rol de idéias originava-se a concepção de uma atividade dirigida para lucros, encarada como uma vocaç&o para a qual o indivíduo se sentisse com obrigações? " (HEBER, 1981, p. 49).

Mais recentemente, filbert O. Hirschman retornou à quest&o, recolocando-a nos seguintes

termos'-" Como foi que o comércio, as atividades bancárias e outros empreendimentos rentáveis si mil ares passaram, e» um certo momento da idade moderna, a ser consideradas atividades dignas, após terem sido condenados e desprezados durante vários séculos sob o nome de ambição, amor do lucro e avareza? " (HIRSCHMAN, 1979, p. 19).

Como em tantos outros assuntos, também neste parece haver mais de uma explicação plausível. Sup&e-se, a propósito, que o argumento de Meber, baseado no papel das mudanças religiosas, ainda tem grande validade para uma resposta à quest&o posta em relevo, fíntes, contudo, buscar-se-á, na perspectiva de Hirschman, fundamentada na vitória do interesse sobre as paixões, una argumentação alternativa.

Cumpre antecipar que ambas as abordagens acabar&o por revelar que parcela significativa das expiicações ter&o que tomar em conta o papel do trabalho na moderna justificativa da avareza. Com efeito, ao tempo dos Escolásticos,

" ...o pecado imperdoável ê o do especulador ou do intermediário, que arrebata lucros privados através da exploração das necessidades públicas, A verdadeira descendente das doutrinas de Tomás de Aquino é a teoria trabalhista do valor. O último dos escolásticos foi Karl Marx " (TAHNEY, 1971, p. 50).