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A REVOLUÇÃO CIENTtFICfí

Transcendental mente Estivei Par*

Uma 1 marten temente Instável

2.3.4. A REVOLUÇÃO CIENTtFICfí

Segando Kenneth Boulding, " a taxa d*

mudança no sistema social e na condição humana enormemente acelerada do presente ê devida quase inteiramente a uma mudança no método de aquisiç&o e transmiss&o do conhecimento que teve lugar hé trezentos ou quatrocentos anos na Europa Ocidental * a que damos o nome d» ciência * (B0ULDIH6, 1974, pp. 14-15).

Do século XVI em diante, encontrm-se na Europa um grupo reduzido de pessoas que se esforçam no sentido de fazer o conhecimento progredir através de um método que envolve a revisão constante de imagens do mundo a partir da observação e do teste sistemático. fís origens da ciência, evidentemente, s&o muito remotas e sua busca conduz-nos certamente  Grécia e & Babilônia* Entretanto, como um movimento social na aceleração do conhecimento, a ciência r>üo deve ser muito anterior a 2600 e a fundaç&o, em Londres, da Royal Society talvez possa ser tomada para simbolizar sua emergência como uma rubcultura legitima e estabelecida (hOULOINB, 1974, p. 15).

Inohstante, pode-se aceitar que a Revoluç&o Cientifica coaeçou no ano de 1543, quando Copérnico, talvez no leito de sorte, rrcebeu o primeiro exemplar impresso do livro que terminara havia cerca de doze anos. /) tese deste livro é de que a terra se move em redor do sol (BRONOHSKI, 1979, p. 17).

Contudo, antes que se trace a evoluç&o da ciência na primeira netade do século XVI, cumpre retomar o ròtciocinio anteriormente desenvol vido . Isto posto, tinha-se' que, dos dois aspectos dá função da raz&o, o que pertine à ss pecul açtío é que, a partir dos gregos, orientou n curios idade mtel ectual da Antigüidade ao Renascimento.

Nesse ponto se pode identificar uma aproximação tSo progressiva das Raz&es especulativa e pratica que a convergência entre ambas acaba se realizando. Em apoio a esse argumento, Uhitehead assevera que "...a raz&o especulativa e a razão pr&tica final mente se encontraram. f*

razão es peculativa emprestou sua atividade teórica, e a raz&o prática entrou COT» suas metodologias para o trato com os diversos tip^s de fatos " (HH1TEHE0Ü, 1935, p. 2í)f reafirmando, ainda uma vez, que "...a ciência se desenvolveu sob o impulso do raz&o especulativa, ou seja, do desejo do conhecimento explicativo " tHHITÍHEfíü, 19B5, p. 24).

Esse conhecimento de carAter explicativo, associado k Raz&o especulativa, foi buscado em ramos coso a física e a astronomia, nos séculos XVI e XVII, <íc,-» os trabalhos de Qalileu e Henton que construíram a primeira imagem cientifica ^o universo (LOPES, 1964, p. 1733),

Co» e.'+ito, já. não era pequena a atençJko pública atrai •'a pela demonstração, por &*1 ileu<Mm*• àms leis da queda dos corpos, tidas como o inicio da moderna citncia natural (embora seja duvidoso que, por si mesmas, sem que Nenton as transformasse mais tarde na lei universal da gravitaç&o elas tivessem levado a nova ciência na direto da astrofísica). Pois o que mais distinguiu o novo conceito do mundo, n&o apenas do conceito dos antigos ou da Idade Média, mas também da grande sede renascentista de experiência direta, foi o pressuposto de que o mesmo tipo de força exterior atuava na queda dos corpos terrestres e no movimento dos corpos celestes * <fífí£NDT, 1983, p. 270).

fí considerado do surgimento de um * novo conceito do mundo " implica reconhecer a transformação do mundo operada pela revol uçAo galileana. Os valores associados às relações do homem consigo mesmo, com Deus e com o mundo sSko postos em questéo e rapidamente separados por outros, mais efêmeros, contudo, mais adequados ao imperativo da emergência do novo conceito do mundo. Tais valores, embora o seu advento se tenha dado durante o Renascimento, assinalam a fase de descrição e de critica da RevoluçAo Cientíiica, durante a qual se buscou explorar horizontes mais vastos e desalojar a autoridade dos antigos.

fí partir daí, "...as pessoas começaram a pensar por si mesmas, fís novas atitudes reiigiosas, valorizando o juízo individual e a responsabi1 idade imediata, brotaram das mesmas necessidades que i^iam dar origem a ciência.

Constitui, am, por assi» dizer, pré-condiç&es essenciais para o triunfo da economia capitalista" (JfíPIfíSSU, 1935, p. 51)

Assim, o que sucede é a instauraç&o do espíritp científico * partir da demoliçAo da síntese gristotelica. Isto é, o esquema de um uni verso unitàrio, submet ido & disciplina rigorosa da física matemática, chamada a axíomatixar cada vez mais todos os setores do conhecimento*"" passa a assumir o lugar do esquema anterior, no qual o mundo formava um cosmos físico bem-ordenado. Nele, tudo encontrava seu lugar, fí terra ocupava o centro do uni verso. 0 mundo era uma real idade dada aos sentidos. 0 homem n&o dominava a natureza. 7ratava-se apenas de um mundo de qual idades e percepções sensíveis, no qual se vivia, se morria e se anava****. Ê preciso chamar atenção, nessa transição da síntese aristotélica para o espírito científico, para esse aspecto da relação entre o homem e a natureza.

2.3.4.1. fí dominação Da Natureza*

Quando Jacob BronoHski define ciência, ele coloca em relevo esse aspecto pertinente ao domínio da natureza* " Eu defino a ciência - diz - como * organização do nosso conhecimento de tal modo que domine

2*

mais o potencial oculto da natureza " (BRONOHSKI, 1979, p*

13).

E acrescentai

* O homem domina a natureza, n&o pela força, mas pela compreensão. £ esta a razlo pela qual a ciência conseguiu alcançar o êxito onde a magia falhou, isto é, n&o tentou lançar nenhum encanto mágico sobre a natureza.

Os alquimistas e os mágicos da Idade Média pensaram (...) que a natureza deve ser dominada por instrumento que ultrapasse as suas leis. Todavia, em quatrocentos anos, desde a revoluç&o científica, aprendemos que apenas conseguimos os nossos fins com as leis da natureza "

(BRONOHSKI, 1979, p. 16).

Contudo, aceitar a afirmação de Bronoptski de que a partir da Revoluç&o Cientifica os fins buscados pela ciência est&o subordinados ks leis da natureza implica considerar que, para ele, " o cientista procura a ordem nos aspectos da natureza " (BRONOHSKI, 1979, p. 20), e

" a ciência não é nada mais do que a procura da descoberta da unidade da desordenada variedade da natureza "

(BRONOHSKI, 1979, p. 22). £m outras palavras, a natureza se apresenta de modo desordenado, inobstante tenha suas próprias leis. O que a ciência faz é colocar " alguma "

ordem na natureza, permitindo para tanto que as suas leis se manifestem, para em seguida domina-1 a "adequadamente"**9'.

£. F. Schuaacher chama atenção, quando trata do "problena da produç&o", para o fato de que aceitar o argumento de que esta quest&o está resolvida é um equívoco, que está vinculado &s transformações filosóficas, para n&o dizer reiigiosas, dos últimos três ou quatro séculos + na atitude do homem face à natureza. O homem moderno nSo vivencia a si mesmo como uma parte da natureza, mas como uma força exterior destinada a doainè-la e a conquistA-1 a. £le fala memo de uma batalha contra a natureza, esquecendo que se gc her a batalha contra a natureza, será derrotado (SCHUMACHER, 1973, p. 11-12).

Ora, essa batalha que o homem busca vencer contra a natureza, dominando-a e submetendo-a através da ciência, revela a definitiva passagem de um estágio transcendente para um período iaanente. f) ciência, além de constituir um instrumento para dominar a natureza, é algo que o faz suficientemtnte sofisticado a ponto de nUo acreditar em Deus. 0 céu será construído na terra, ft auto-salvaçAo é uma reelizsçio da vida que chega a cada homem com a senseç&o de que ele está contribuindo para a sociedade de acordo com sua capacidade, compensada pelo salário ao fim do mús. Nlo há qual quer problema rei ativo A existência na sociedade exceto a satisfação imanente das massas (VOE&EL1N, J9B2, p. 126).

Todavia, o domínio encetado contra a natureza, a despeito de integrar o homem na sociedade, torna-o extremamente solitàrio em face do poder que alcançou no plano de conquista da natureza. Jacques Ellul, a propósito, sugere que o homem do século XX se tornou demais senhor de todas as coisas. Ele agora está solitàrio, e o que o assombra é a sua própria falta de virtude, de certeza com relaç&o a si mesmo. Quem o garantirá agora que os obstáculos da natureza foram varridos e nSo há mais nenhum contrapeso à sua açio soberana. É ótimo possuir o poder atômico» Has se encontrar só e de posse desse poder, saber que se ê responsável por cada decisão e de que a força ê tudo em que se- pode confiar, acaba criando uma situação intolerável

(ELLUL, 1981, p. 109-110).

Isto posto, cabe enfatizar outro aspecto associado á transiç&o da síntese aristotélica para o espirito científicoi trata-se da evolução da ciência como uma "subeultura legítima e estabelecida" (BOULDIHG), que, como argumentou Jacques Ellul, levaria o homem a uma situaçtko em que, a despeito do poder por ele detido, ele estaria só e desprovido de virtudes. Em outras palavras, é preciso colocar em perspectiva o papel da Royal Society quanto ao surgimento e a evoluç&o da ciência.

2.3.4.2. ft Royal Society^

De acordo com Japiassu, " de 1657 a 1667, existirá em Florença, cidade que deu proteç&o a dalileu, a fíçadenja dei Cimento, onde se realizam trabalhos científicos extraordinários. Mss a vigilAncia inquisitorial termina por levar essa primeira fícademia de Ciência a fechar suas portas. Todavia, a criação da Royal Society of Sciences de Londres (1662) e dâ fícadêmie d es Sciences de Paris (1666) vir&o dar a nova ciência domicílios fixos onde poderio desenvolver-se as pesquisas cientificas, graças » proteção efetiva dos reis da Inglaterra e da França, bastante fortes para permitíre» o desenvolvimento livre da nova ciência " (JAPIASSU, 1935, p. 103).

De onde, contudo, surgem essas

"academias de ciências", particularmente a Roval Soçje^y, que tanta influência vai ter na emergência e evolução da ciência?

Os filósofos do século XVII, preocupados com a qurst&o do método, poderiam ser distinguidos em dedutivistas e indutivistas, Ha França, Descartes propunha um método dedutivo que permitisse construir um sistema do mundo. Na Inglaterra, Bacom propôs n&o um sistema mas uma orQsnizaç&o que possibilitasse novos sistemas, " donde seu Novum Üroanum. Da idéia organizacional

d* Bacoa surgirá a primeira sociedade cientifica eficaz* a Royal Society of Sciences - (JdPlàSSU, 1965, p. 72).

Com efeito, a leitura de seus estatutos, redigidos por Robert Hooke em 1663, permitir!

verificar que o ideal de "organizaç&o indutiva" de Bacon está contido nos próprios objetivos da Royal Society que, explicitamente, tratam "...de melhorar o conhecimento das coisas naturais e de todas as artes úteis, manufaturadas, práticas wec&nicas, engenhos e invenções, por meio de experiências - sem se imiscuir em Teologia, Metafísica, Moral, Política, Gramática, Retórica ou Lógica " (JftPItiSSU, 1985, p. 105).

ft preocupado de nSo interferir em setores alheios à curiosidade cientifica e a busca de organizado A também notada (embora em nota de rodapé) por Hannah fírendtt

" fí fundação e a histôria inicial

da Royal Society são bastante sugestivas, Quando ela foi fundada, seus membros se comprometiam a n&o participar de questões alheias ao escopo que lhe fora prescrito pelo rei e, principalmente.. r>3o se envoi ver em disputas políticas ou reiigiosas. Tem-se a tentação de concluir que foi ent&o que nasceu o moderno ideal científico de QobJetividadeQf e, nesse caso, esse ideal teria origem política, e não cientifica. fílém disso, é digna de nota a circunstância de que os cientistas tinham, desde o inicio, achado necessário organizar uma sociedade! e o fato de que o trabalho realizado no Âmbito da Royal Society veio a ser vastamente mais importante que qual quer trabalho feito fora dela demonstrou o quanto estavam certos. Uma sociedade, seja de políticos, seja de cientistas que abJuraram a política, é sempre uma instituição politícaj sempre que os homens se organizam, pretendem agir para adquirir poder. Nenhum trabalho cientifico de equipe é ciência pura, quer seu objetivo seja atuar sobre a sociedade para garantir aos seus membros posição segura dentro dela, ou (...) agir em conjunto visando dominar a natureza " (ARENDT, 19B3 , p. 233-34) .

Todavia, a despeito do argumento de Hannah firendt, segundo o qual a Royal Society era - no fundo - uma instituição política integrada por indivíduos preocupados em obter poder, tem-se a tentaç&o de ver na academia inglesa o que registrou o naturalista francos BUFFON que " ...no curto inverno de J738-1739, encontrou os homens graves da Royal Society, herdeiros de Nenton, os últimos de uma grande geração. Verificou que eles n&o era»

uma corte nem uma plebe, mas uma comunidade de cientistas procurando Juntos a verdade com dignidade e humanidade "

(BRONOHSKl, 1979, p. 71).

Consideradas as circunstâncias que assinalaram a Revolução Científica, coové» dedicar agora alguma atenção sobra sua evolução e definitiva institucional izecãp .

dito que