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O DISCURSO DA PROFISSIONALIZAÇÃO DA FORMAÇÃO DOCENTE NA PERCEPÇÃO DOS FORMADORES NA UFSM E UNESP

4.2 A profissionalização docente na perspectiva dos formadores da UFSM e UNESP. UNESP

4.2.5 O papel da pesquisa na reprodução do modelo de formação

É possível perceber um movimento contraditório da defesa do professor pesquisador e do papel da pesquisa na reprodução de determinado modelo de docência.

Os formadores relatam que falta integração entre os professores e as disciplinas por eles ministradas. Embora a pesquisa seja um componente exigido nos novos currículos, os cursos não apresentariam, ainda, as condições necessárias para ofertá-la. Portanto, esta seria abordada por meio de disciplinas com carga horária bastante reduzida ou, como é o caso da UFSM, apenas no final do curso por ocasião do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

173 No caso dos futuros professores da UFSM, o TCC significaria a possibilidade de articular os conteúdos estudados ao longo do curso durante os estágios e de produzir uma pesquisa relacionada à realidade escolar.

Nas situações em que o desenvolvimento do TCC coincide com a realização dos estágios, é possibilitado ao estudante, ainda que de forma limitada, a realização de sua pesquisa a partir de situações reais. Tal iniciativa, conforme o relato dos formadores, constitui-se em uma importante possibilidade de se pesquisar os problemas da escola e refletir sobre as práticas durante o estágio. Todavia, ressaltamos que essa prática ocorre de forma isolada por incentivo dos formadores ou iniciativas individuais dos estudantes.

Para os formadores da UNESP, onde o TCC tornou-se optativa na última reformulação curricular, a ideia é de que os estudantes se envolvam durante todo o curso em atividades e projetos de pesquisa. Segundo alguns professores, a disciplina no final do curso representava uma sobrecarga que resultava em trabalhos de pouca qualidade.

Ressaltamos, ainda, a defesa de alguns formadores pela inserção na escola desde o início do curso. Por iniciativas individuais, os futuros professores são instigados a experimentarem o futuro local de trabalho e a investigarem a complexidade desse lugar.

Todavia, esse movimento ocorre desconectado de outras disciplinas do curso.

A presença da pesquisa no curso tornaria a formação mais complexa e exigiria uma melhor integração em entre as disciplinas, as áreas e os professores dos cursos. Além disso, o que se produz apresenta pouca pertinência com as reais necessidades da escola e dos professores da educação básica. O retorno dos resultados da pesquisa poderia ser mais bem aproveitado sob a forma de cursos de formação para os professores em exercício.

Apesar das dificuldades apontadas acima, os formadores defendem a necessidade de se formar o professor pesquisador, capaz de analisar e investigar a complexidade da escola na atualidade.

[...] precisa aprender a pesquisar e como momento diário da prática do futuro profissional, não é no sentido dele estar aprofundado conhecimentos específicos. Mas principalmente dele estar refletindo sobre a sua própria prática, aprender a questionar a relacionar, problematizar… o que está aprendendo no curso de formação é o que a gente chama de profissional reflexivo (F4) (grifo nosso).

Alguns formadores, ao abordarem o desenvolvimento da pesquisa no curso, apresentam o forte argumento de que têm trabalhado para que os estudantes aprendam a pesquisar sua prática e a refletir sobre ela, para que sejam “um pesquisador em sala de aula, no seu dia-a-dia”, observadores capazes de ler a realidade, que não tenham o TCC como instrumento de investigação e não somente uma disciplina a se cumprir ao final do curso.

174 Para outro grupo de formadores, o espaço do estágio seria o momento adequado para se desenvolver a postura de investigador, onde o futuro professor deveria extrapolar a posição de mero observador das práticas de professores em exercício. Defendem uma formação que é a busca da informação, sua análise e sistematização e, por fim, a produção de novos conhecimentos. Porém apontam que esta ainda não é a realidade do curso de Pedagogia, uma vez que "os próprios formadores dentro do curso não trabalham nesta lógica. O estudante sai do curso com a verdade pronta[...] e não opera o princípio da ciência que é se perguntar, se indagar. Essa lógica ainda não existe no curso de Pedagogia” (F10).

No caso específico do curso de Pedagogia da UFSM, como resultado da última reforma curricular empreendida, a pesquisa deveria constituir-se como fundamento, por meio de atividade integradora que o curso promove até o sétimo semestre, denominada Práticas Educativas3 (PEDs). Trata-se de um momento em que todos os professores do semestre elaboram uma problematização a ser tratada naquele momento semanal.

Haveria no Projeto Pedagógico do curso o interesse em “fortalecer a ideia de um pedagogo pesquisador, não somente como alguém que vai cumprir atividades de iniciação científica, mas por que [...] no seu cotidiano como trabalhador, vai problematizar a sua realidade, o seu entorno” (F7).

Embora, por força da legislação, a presença da pesquisa tenha sido uma exigência nos cursos de formação e nos Projetos Pedagógicos da Pedagogia, poucas disciplinas ofertadas possuem relação direta com ela. A pesquisa tem sido desenvolvida, de forma mais efetiva, no curso via projetos de iniciação científica e de extensão, por iniciativas individuais dos formadores.

Como relatado por esse formador, a oferta e acesso à pesquisa dependeria de sua atuação e vínculo com pesquisa: “Tudo depende do professor que está atuando. Os que estão vinculados de alguma forma à pesquisa, a levam para a sala de aula. Mas não haveria essa relação direta” (F9).

A condição social do estudante pode ser um fator determinante para o acesso à pesquisa durante o curso, especialmente quando consideramos a origem social dos estudantes

3A PED é uma disciplina do Curso de Pedagogia da UFMS que, a partir de uma metodologia de compartilhamento, assume o papel de eixo temático articulador entre as demais disciplinas do Curso. A PED materializa-se por meio de atividades em Instituições Escolares, ou espaços educativos não convencionais, e de atividades de seminário. A disciplina prevê, ainda, uma dinâmica de encontros semanais entre as atividades de prática educativa e seminários de discussão temática. Em cada semestre é apresentado um tema específico, objetivando a flexibilidade e a complementação da formação acadêmica, bem como aprofundar e/ou diversificar os conhecimentos relativos a essa formação.

175 do curso de Pedagogia. Situação agravada se tomamos como referência os estudantes dos cursos noturnos.

Assim, é possível identificar no relato dos professores a existência de uma grande incoerência no curso de Licenciatura em Pedagogia, uma vez que os futuros professores que podem e que possuem meios de se dedicarem a projetos de iniciação científica e de extensão e, por consequência, ter maior contato com a investigação, muitas vezes ingressam na carreira acadêmica. Todavia, são aqueles que tiveram acesso restrito à pesquisa, por sua condição social, que irão para as escolas.

Essa situação é bastante evidenciada entre os estudantes da UNESP: “Quem participa das atividades de pesquisa e extensão são aqueles alunos que não precisam trabalhar” (F12).

Nos casos em que a pesquisa aparece de forma articulada ao curso de Pedagogia deve-se à sua relação com pós-graduação.

Os relatos de uma formadora, com quase vinte anos de magistério superior, são reveladores de uma situação que tem afrontado os formadores há alguns anos no que diz respeito à cobrança progressiva de produtividade nos programas de pós-graduação e a dedicação menos incisiva na graduação. Trata-se de um movimento contraditório em que se produz mais, mas não necessariamente esse produto está relacionado às necessidades daquele que deveria ser por natureza o alvo das pesquisas: “a escola pública”.

A formadora aponta que o que se realiza hoje na universidade e na pós-graduação em especial, são pesquisas muito narcisistas que pouco contribuiriam para a sociedade, que as IES estão fechadas investigando temas internos.

No âmbito das IES, discute-se pouco as questões ligadas ao cotidiano escolar como “o melhor método para ensinar a ler e escrever, as formas de avaliação, a composição de currículo, currículo transversal etc.", questões contemporâneas, de impacto na escola.

Pouco se valorizaria a produção do outro e os sistemas de avaliação da pós-graduação têm impulsionado os programas à competição e ao individualismo.

[...] Eu acho que nós padecemos desse mal, uma competitividade desenfreada, um egoísmo, e... uma soberba? Uma soberba assim, pedigree acadêmico que não nos cabe, num país de tanto miseráveis... Eu acho uma afronta algumas associações que existem nesse país, algumas regras que se instituem na academia, [...] eu acho que é assim um desrespeito à população brasileira (F8).