• Aucun résultat trouvé

A (des) integração do discurso legal sobre a profissionalização nos currículos de formação dos professores

O DISCURSO DA PROFISSIONALIZAÇÃO DA FORMAÇÃO DOCENTE NA PERCEPÇÃO DOS FORMADORES NA UFSM E UNESP

4.2 A profissionalização docente na perspectiva dos formadores da UFSM e UNESP. UNESP

4.2.2 A (des) integração do discurso legal sobre a profissionalização nos currículos de formação dos professores

Os formadores foram questionados sobre os fatores que, na atualidade, motivariam a integração da noção de profissionalização nos currículos de formação de professores. Para alguns formadores, trata-se de uma noção recente no Brasil quando comparada a outros países. Sua abordagem seria o resultado de uma evolução da própria história dos professores e da legislação produzida nas últimas décadas. Todavia, apesar de estar presente no discurso

167 político e no arcabouço jurídico orientador da formação, tal noção ainda não estaria materializada nos currículos dos cursos.

Para um grupo de formadores, esse perfil do professor profissional se originaria de uma política educacional mais ampla, a partir da definição de diretrizes específicas para os cursos de formação. Todavia, percebem uma preocupação ainda bastante limitada nos cursos com a questão da profissionalização.

Justificam que a presença dessa noção nos referenciais legais contribuiria para a minimização da distância entre teoria e prática nos cursos e para o acesso à escola e à prática desde o início do curso. Entretanto, afirmam que essa questão ainda não estaria contemplada na organização dos currículos e nos projetos pedagógicos do curso.

Eu acho que a noção de profissionalização deveria ser o eixo norteador dos currículos de formação de professores, embora eu ainda não tenha percebido com clareza, de forma explicitada que os projetos pedagógicos desse curso contemplem essa preocupação. A exemplo dos cursos de licenciatura, eu acho que eles não articulam, não integram a noção da profissionalização [...] (F19).

Por outro lado, é possível verificar no relato dos formadores que a integração da noção de profissionalização vincula-se diretamente ao saber-fazer docente, com forte referência na relação teoria-prática.

Os professores apontam para a necessidade de profissionalização da formação como mecanismo para o aprimoramento da relação teoria-prática e para impedir a fragilidade dos futuros professores no final do curso. Defendem o acesso à escola e à pratica desde o início do curso.

Apontam que ainda há resistência no curso no que diz respeito à alteração do modelo vigente em que nos primeiros anos seriam ofertadas disciplinas de cunho teórico e, posteriormente, os futuros professores iriam à escola para os estágios, onde uniriam a teoria e a prática. O discurso abaixo exemplifica a condescendência com este modelo.

[...] a preocupação do curso aqui [...] é formar um bom professor. Para isso, o curso conta inicialmente com aquelas disciplinas consideradas como fundamentos [...] e, na sequência, principalmente os dois últimos anos do curso têm uma carga bem extensa de metodologias. Por quê? A preocupação é... reunir teoria e prática, [...] Então a tentativa do curso é de formar o bom professor. Se se consegue é outra história (risos), mas tenta formar um professor com bastante fundamento ...científico aliado à prática (F14).

Embora defenda a relação teoria-prática no centro das preocupações do curso, a formadora insiste no fato de que formar um bom professor significa ofertar uma carga extensa de fundamentos teóricos e, “na sequência”, uma extensa carga horária de metodologia. O

168 relato esclarecedor de que apesar das críticas ao modelo 3+1 e à sua eficiência, ele ainda é reproduzido nos cursos de formação de professores.

Embora vários esforços tenham sido empreendidos, durante décadas de discussões entre pesquisadores, formadores e gestores de políticas educacionais, para promover modelos de formação e currículos mais apropriados às necessidades de formação, é possível perceber na dinâmica dos cursos resistência a essa proposição. Por consequência, os futuros professores continuam sendo formados a partir de concepções de docência bastante retrógradas.

Novas propostas de reorganização do currículo ocorreriam, mas ainda de forma isolada, por iniciativa de pequenos grupos de formadores.

Uma terceira perspectiva identificada na percepção dos professores indica que a emergência da profissionalização no curso de Pedagogia estaria relacionada aos seguintes aspectos: a) elevação da formação ao nível superior; b) defesa do estatuto docente e c) obtenção do reconhecimento social e profissional.

A elevação da formação professor ao nível superior possibilitaria, por um lado, uma melhor profissionalização da formação docente. Por outro lado, representaria uma forma de reconhecimento de um campo de estudos, ao se exigir a certificação em nível superior para desempenhar determinada atividade, a exemplo do que ocorreu recentemente com a Educação Infantil.

É importante ressaltar que a formação em nível superior para a Educação Infantil tornou-se obrigatória nos cursos de Pedagogia apenas recentemente, com a aprovação da Resolução CNE/CP Nº 1, de 15 de maio de 2006, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura.

Assim, para esta professora da UFSM, trata-se de um conceito novo que envolveria outras terminologias (profissionalização, profissionalidade, profissionalismo), mas que muitas vezes as pessoas não conseguem compreender. Os significados da profissionalização, em sua perspectiva, variam em função do contexto onde são utilizados. Possuiria um significado diferente no curso de Pedagogia, onde os estudantes têm uma maior proximidade com esse tipo de discussão, onde “são mais susceptíveis a um discurso pedagógico que as procura produzir [terminologias] de determinada forma" (F9).

Em outras licenciaturas, existiria uma tendência em que primeiro os futuros professores se identificariam como geógrafos, historiadores e depois professores. Trata-se de um indicativo da falta de reconhecimento da docência como profissão.

169 Existiriam situações em que a utilização da palavra teria como finalidade a delimitação de um campo de conhecimento e a obtenção de reconhecimento profissional e social. A situação sofre variações de acordo com diferentes disciplinas ou áreas, porque nem todas acreditam ou possuem clareza sobre os seus significados.

Para um pequeno grupo de formadores, a integração da noção de profissionalização é entendida como uma forma de se garantir a formação de professores habilitados a ensinar o currículo oficial na educação básica. A implementação da LDB e da legislação posterior teriam apresentado como consequência o aligeiramento da formação.

4.2.3 O curso de Pedagogia e as dificuldades de se profissionalizar os futuros