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Empreendedorismo, Responsabilidade Social e Sustentabilidade Empresarial No final deste ponto iremos compreender como é que as empresas poderão incorporar

PAINEL II: RESPONSABILIDADE E CIDADANIA ORGANIZACIONAL

RESPONSABILIDADE SOCIAL NO MUSEU DO MARCENEIRO - GALERIAS DE MÓVEIS SÃO FRANCISCO, Ld.ª EM ÉVORA

2. Empreendedorismo, Responsabilidade Social e Sustentabilidade Empresarial No final deste ponto iremos compreender como é que as empresas poderão incorporar

novos conceitos e valores, nomeadamente práticas de RS e Sustentabilidade que podem consistir também em atitudes empreendedoras.

2.1EMPREENDEDORISMO

“O empreendedorismo é um fenómeno que assume diversas formas e aparece em pequenas e grandes empresas, nas empresas estabelecidas e na criação de novas empresas, na economia formal e na informal, em actividades legais e ilegais, nas ocupações inovadoras e tradicionais, nas empresas de alto risco e nas de baixo risco, e em todos os sectores económicos (OCDE, 1998 apud Nijkamp, 2009, p. 854)”.

Não há uma única definição para empreendedorismo. Ao que parece a palavra empreendedorismo deriva do francês e deve-se a Richard Cantillon, economista francês do século XVIII, o aparecimento desta noção. O Global Entrepreneurship Monitor (GEM) descreve o Empreendedorismo como “uma forma de pensar e agir, obcecada pelas oportunidades, com uma abordagem holística e equilibrada em termos de liderança, com o objectivo de criar riqueza”. Mas “qualquer tentativa de criação de um novo negócio ou uma nova iniciativa, tal como o emprego próprio, uma nova organização empresarial ou a expansão de um negócio existente, por um indivíduo, equipa de indivíduos, ou negócios

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estabelecidos” é, no entender do GEM também empreendedorismo (apud Sarkar, 2009, p.

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A OCDE (1998, apud Nijkamp, 2009, p.855) identifica três importantes características do empreendedorismo. “Em primeiro lugar, o empreendedorismo envolve um processo dinâmico com empresas em várias situações: as novas empresas que se estão a iniciar, as empresas já existentes que estão a crescer e as empresas que não tiveram sucesso e que estão a ser reestruturadas ou a fechar. Uma segunda característica do empreendedorismo é que – na medida em que implica o controlo do processo pelo empresário-proprietário – ele tende a ser identificado com a pequena empresa onde o proprietário(s) e gerente(s) são os mesmos. Finalmente, o espírito empresarial implica inovação”.

Para Joseph Schumpeter (1936) (apud Sarkar, 2009, p. 53), o empreendedoriso aparece ligado à inovação, defendendo que empreendedor é aquele que aplica uma inovação no contexto dos negócios, que por sua vez pode tomar várias formas: introdução de um novo produto; introdução de um novo método de produção; abertura de um novo mercado; a aquisição de uma nova fonte de oferta de materiais e a criação de uma nova empresa.

“O desenvolvimento do sector das PME desempenha um papel crucial na dinâmica espacial, pois muitas formas criativas de empreendedorismo encontram-se neste sector”

(Nijkamp, 2009, p. 857). E, “o ambiente local (incluindo a cultura, os conhecimentos e as atitudes das empresas) parece funcionar como um factor de sucesso crucial para novas formas de empreendedorismo” (Camagni, 1991, apud Nijkamp, 2009, p. 865). Para Sarkar (2009, p.32), empreendedorismo “é o processo de criação e/ou expansão de negócios que são inovadores ou que nascem a partir de oportunidades identificadas”.

As opiniões não são unanimes, portanto. E principalmente se pensarmos nas inúmeras formas de empreendedorismo (por necessidade, por oportunidade, electrónico, familiar, comunitário, municipal, social, etc, etc.), não perdendo de vista também o intra-empreendedorismo, em que os intra-empreendedores são vistos como empreendedores com ações bem-sucedidas dentro de uma organização estabelecida ou em parceria com outros indivíduos, também eles empreendedores, que têm características diferentes, complementando-se portanto, entre si.

“Os empreendedores são pessoas que reagem às alterações das economias, funcionando como agentes económicos que transformam a procura em oferta” (Adam Smith, 1776, apud Sarkar, 2009, p. 27). Para John Stuart Mill (1848, apud Sarkar, 2009, p. 27), o empreendedorismo “é a base da empresa privada; o empreendedor é aquele que corre

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riscos e toma decisões, que gere recursos limitados para o lançamento de novos negócios”.

“O empreendedor é aquele que transforma recursos em produtos e serviços úteis, criando oportunidades para fomentar o crescimento industrial” (Carl Menger, 1871, apud Sarkar, 2009, p. 27). “O empreendedor é agente que transfere recursos económicos de um sector de produtividade mais baixa para um sector de produtividade mais elevada e de maior rendimento” dizia Jean Baptiste Say (1803, apud Sarkar, 2009,p. 27)).

Ainda que não se nasça empreendedor, “ser-se empreendedor não é nem inato nem hereditário, embora existam diferentes combinações de características pessoais, de liderança, de motivação e comportamentais que podem indicar a vocação empreendedora, há alguns traços de personalidade e algumas características que os empreendedores bem-sucedidos tipicamente partilham” (Ferreira, . et al, 2008, p. 55).

Apontamos um conjunto de características aos empreendedores, detalhando assim o seu perfil comportamental: são normalmente considerados indivíduos com iniciativa, visão, coragem, firmeza, decisão, resilientes, com atitude de respeito humano e com grande capacidade de liderança e organização.

2.2RESPONSABILIDADE SOCIAL

O conceito de RS das empresas refere-se à responsabilidade que estas deverão assumir na gestão das suas organizações, olhando muito para além do lucro imediato e dos tradicionais rácios económicos.

Ao longo do século XX e já neste século, a RS das organizações tem sido objecto de inúmeras investigações académicas e com elas têm surgido várias definições. Mesmo na década de 50, a RS, associada ao tema da ética, já integrava a gestão no contexto empresarial das empresas americanas, como Carroll veio sintetizar através da sua pirâmide com quatro níveis, em que destaca a Responsabilidade Económica como base que sustenta as outras e que surgem sequencialmente. Pressupõe assim que, para se tornar socialmente responsável, a empresa tem que passar por várias etapas, tendo-se, de baixo para cima, o seguinte (1979, 1999 apud Almeida, 2010, p. 63): Responsabilidades económicas;

Responsabilidades legais; Responsabilidades éticas; Responsabilidades filantrópicas.

É a Freeman (1984) que se atribui a origem da teoria dos stakeholders, quando este autor publica o primeiro livro sobre a função que o envolvimento com os stakeholders deverá ter na estratégia empresarial. O âmago da questão reside no facto de a direcção das empresas não se dever cingir apenas aos interesses dos accionistas/ proprietários – mas

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também aos interesses de outros stakeholders (partes interessadas), nomeadamente os empregados, os gestores, a comunidade local, os clientes e os fornecedores.

Elaborado pela Comissão Europeia, com o objectivo de debater o conceito de RS da empresa, incentivar o desenvolvimento de práticas inovadoras e promover parcerias para a sua concretização, o “Livro Verde: Promover um Quadro Europeu para a RS das Empresas”, veio, em 2001, reforçar a estratégia europeia para a responsabilidade empresarial. Nele se descreve a RS das empresas como “um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo.” Em Julho de 2002, a Comissão Europeia apresenta um outro documento de referência, e nele defende que

“RS das Empresas: um contributo das empresas para o desenvolvimento sustentável”, definindo aí que “cabe às organizações a adopção de uma atitude de RS, no quadro de uma dinâmica de integração entre todos os agentes envolvidos nas suas actividades” (Comissão Europeia, 2002, p. 347).

Ainda mais recente é a comunicação da Comissão Europeia ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões (Comissão Europeia, 2011), que vem apresentar “uma nova estratégia da UE para o período de 2011-2014” em sede de Responsabilidade social das empresas. Neste documento a Comissão Europeia cumpre o assumido: “renovar a estratégia da UE para promover a responsabilidade social das empresas”, já que, conforme ali se lê:

“A responsabilidade social das empresas permitir-lhes-á prestar um contributo inestimpermitir-lhes-ável para os objetivos de desenvolvimento sustentável e de uma economia social de mercado altamente competitiva plasmados no Tratado da União Europeia. A responsabilidade social das empresas está em clara sintonia com os objetivos da estratégia Europa 2020 para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, nomeadamente com a meta de 75% no plano do emprego. O comportamento empresarial responsável é especialmente importante quando operadores do sector privado prestam serviços públicos.

Contribuir para mitigar as consequências sociais da atual crise económica, incluindo a perda de postos de trabalho, faz parte da responsabilidade social das empresas. A responsabilidade social das empresas proporciona um conjunto de valores com base nos quais se poderá construir uma sociedade mais coesa e evoluir para um sistema económico sustentável” (p. 4).

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Seguindo Santos et al. (2005, p. 31), a dimensão social integra as acções orientadas para a gestão do elemento humano que compõe a sua matriz social (componente interna) e as acções orientadas para a comunidade envolvente (componente externa). A dimensão social interna inclui acções relativas ao local de trabalho e é essencial para os bons resultados da empresa, dado que a produtividade, a inovação e a qualidade dependem dos níveis de motivação e satisfação dos trabalhadores da empresa. Nesta dimensão podem incluir-se práticas de RS ligadas a: Gestão de Recursos Humanos; Informação e Comunicação;

Serviços Sociais; Gestão da Mudança Organizacional; Empregabilidade; e Saúde, Segurança e Higiene do Trabalho. Na dimensão social externa integram-se práticas destinadas aos agentes externos da empresa, incluindo a comunidade local. Na dimensão económica as empresas relacionam-se com três tipos de parceiros: clientes, fornecedores e investidores ou accionistas. “A responsabilidade ambiental das empresas passa pela integração das questões ambientais na gestão estratégica, atribuindo-lhes a devida importância, a par das questões de carácter económico e social” (Santos et al., 2005, p.

51). “A componente interna da responsabilidade ambiental das empresas refere-se, de uma forma geral, à adopção das políticas e procedimentos internos que conduzem a uma melhoria contínua do desempenho ambiental e à sua introdução no quotidiano da actividade das empresas” (Santos et al., 2005, p. 52). Por sua vez, a componente externa está ligada “à interacção das empresas com os seus parceiros externos, nomeadamente fornecedores, clientes, comunidade em geral, organizações não-governamentais de ambiente, entre outros” (Santos et al., 2005, p. 53).

2.3SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL

Organizações governamentais e não-governamentais, empresas públicas e privadas e, de um modo geral, toda a sociedade, têm vindo a assumir o conceito de desenvolvimento sustentável. As empresas têm vindo, continuamente, e de um modo crescente, a movimentarem-se no sentido da sustentabilidade empresarial, muito devido aos novos requisitos legais que implicam custos financeiros, mas também à consciência de que a integração de variáveis ambientais e sociais pode potenciar a criação de oportunidades de negócio, com consequências positivas na criação de valor económico.

Certo é que as empresas têm um papel de destaque no crescimento económico e no emprego, assumindo lugar cimeiro na inovação e no desenvolvimento tecnológico.

Importante é também o papel do sector privado como fonte de capital para os países em

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desenvolvimento pois, em termos globais, os investimentos do sector privado perfazem mais de 85% do fluxo financeiro (Convenção Quadro da ONU, 2007).

Sustentabilidade empresarial significa a capacidade de gestão de uma atividade empresarial e a criação de valor de longo prazo, simultaneamente à criação de benefícios sociais e ambientais para os seus stakeholders. Parafraseando, Porter e Kramer (2002, p.

68), “não há nenhuma contradição entre melhorar o contexto competitivo e denotar um sério empenho no melhoramento da sociedade.”

Ao integrarem a gestão de riscos e oportunidades dos domínios ambiente e social, as empresas terão capacidade de antecipar estes factores, com resultados no seu desempenho económico. Através da gestão integrada da responsabilidade social será possível a criação de valor. Por outro lado, é possível transformar riscos em oportunidades, quando a existência de falhas de mercado associados ao surgimento de problemas ambientais e sociais tem impacto no sector privado. A sustentabilidade empresarial traduzir-se-á na transformação desses problemas em novas oportunidades de negócio, a que se associam benefícios económicos, capacidade produtiva, criação de emprego qualificado e boas condições de trabalho.

De forma mais sustentável, as empresas terão maior possibilidade de acrescentar valor aos negócios se, para além do diálogo com os stakeholders, conseguirem envolver todos os departamentos que a compõem, integrando a sustentabilidade num modelo de gestão em que seja permitido inovar para ir ao encontro das necessidades dos seus clientes e, em simultâneo, apresentar produtos e serviços ambiental e socialmente responsáveis.

A orientação para a sustentabilidade de uma unidade empresarial, bem como a implementação e manutenção de determinados princípios, dão hoje indicações claras relativamente à sua capacidade de gestão, onde se incluem valores intangíveis, tais como, a liderança, a execução estratégica, as marcas, o capital humano e o desempenho operacional.

3. Metodologia

A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo assentou na pesquisa bibliográfica como ponto de partida, seguindo-se a pesquisa descritiva, assumindo-se depois uma abordagem exploratória, a que se seguiu o estudo de caso, privilegiando-se a natureza

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qualitativa dos dados. Para obtenção de dados referentes às Galerias de Móveis São Francisco, Ld.ª, e muito concretamente, ao Museu do Marceneiro, procurou-se aplicar um questionário e complementar os dados assim conseguidos com a realização de uma entrevista semi-estruturada. Refira-se ainda que foi utilizado o modelo conceptual desenhado para o estudo RS nas PME – Casos em Portugal (Santos et al., 2006) (Quadro 2). Para complementar os dados obtidos através do questionário foi realizada uma entrevista semi-estruturada com questões abertas ao dirigente indicado pela empresa, que incidiram sobre questões relacionadas com Empreendedorismo e a criação do Museu. A documentação sobre a empresa, recolhida antes da entrevista, bem como aquela que foi fornecida aquando da visita para a realização da mesma, possibilitou uma análise mais rigorosa da informação.

Quadro 2 – Modelo de análise dos tipos de estratégias de RS

VOLUNTÁRIA PREVENÇÃO

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As estratégias de negócios (Quadro 3), a relação com os stakeholders (Quadro 4) e a atitude perante a RS (Quadro 5) são considerados os principais factores que influenciam este tipo de práticas nas empresas. “Os tipos de estratégias de RS das PME resultam da análise dos três vectores considerados anteriormente” (Santos et al., 2006, p.63), que se materializam num quadro de referência para classificar as estratégias desenvolvidas pelas empresas (Quadro 6).

A partir da sistematização de variáveis e práticas de RS (Santos et al., 2006, p. 66), foi construído o inquérito às práticas de RS (Santos et al., 2006, p. 250), que serviu de instrumento de tratamento da informação, facilitando a sua análise. O inquérito permitiu identificar: práticas de RS das empresas no âmbito das três dimensões em análise (económica, social e ambiental); estratégias adoptadas; factores, motivações, benefícios e obstáculos que condicionam a adopção de práticas de RS.

4. Apresentação da empresa Galerias de Móveis São Francisco, Ld.ª