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Ramos do arco aórtico no mocó (Kerodon rupestris) Aortic arch branches of the in rock cavy (Kerodon

rupestris)

Marcela dos S. Magalhães1, José Fernando G. de Albuquerque2, Moacir F. de Oliveira2,

Paula de C. Papa3, Carlos Eduardo B. de Moura*1

1Departamento de Morfologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Caixa postal 1524, Campus Universitário Lagoa Nova, 59072-970 Natal – RN, Brasil

2Departamento de Ciência Animal, Universidade Federal Rural do Seminárido

3Departamento de Cirurgia, Setor de Anatomia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo

RPCV (2007) 102 (561-562) 49-52

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Resumo: No presente trabalho, foram utilizados 20 espécimes de Kerodon rupestris, 5 fêmeas e 15 machos. Após o preenchimento do sistema arterial com neoprene-látex 450 corado com

pigmento específico, foi realizada dissecação para observação da disposição dos ramos do arco aórtico. Em 13 preparações (65%), originou-se do tronco braquiocefálico no sentido crânio--dorsal a artéria subclávia direita e posteriormente o tronco bicarotídeo, o qual origina as artérias carótidas comuns direita e esquerda. Em seis casos (30%), o tronco braquiocefálico

originou primeiramente a artéria carótida comum esquerda, depois, separadamente, um tronco da artéria subclávia direita e artéria carótida comum direita. Em um único animal (5%) o tronco braquiocefálico trifurcou-se, originando as artérias subclávia direita, carótida comum direita e carótida comum esquerda. Em todos os casos os únicos ramos que emergiram do arco aórtico foram o tronco braquiocefálico e a artéria subclávia esquerda.

Palavras-chave: anatomia comparativa, sistema circulatório, roedores

Summary: In this study 20 specimens of Kerodon rupestris, 5 females and 15 males were used. After performing the injections with neoprene-latex 450 stained with specific pigment,

animals were dissected for description of aortic arch branches.

In 13 preparations (65%), the right subclavian artery was originated from braquiocephalic trunk, from which also emerged the bicarotid trunk originating the right and left common carotid arteries. The left common carotid artery was originated from braquiocephalic trunk in 6 cases (30%), followed by the right subclavian artery and right common carotid artery in the trunk. The braquiocephalic trunk divided into three branches: the right subclavian artery and right and left common carotid arteries, only in one animal (5%). The left subclavian artery originated directly from the aortic arch in all the cases.

Keywords: comparative anatomy, circulatory system, rodents

Introdução

A caatinga é caracterizada pela presença de arbustos espinhosos e florestas sazonalmente secas, cobrindo a maior parte dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e a parte nordestina de Minas Gerais. Este ecossistema é marcado por um regime de chuvas extremamente irregular de ano para ano, o que resulta em secas severas periódicas (Krol et al., 2001; Chiang e Koutavas, 2004). A maioria das chuvas (50-70%) se concentra em três meses consecutivos (fevereiro, março e abril) apesar da alta variação anual e dos longos períodos de seca serem freqüentes (Nimer, 1972).

A caatinga tem sido descrita como um ecossistema pobre em espécies e endemismo (Vanzolini et al., 1980; Andrade-Lima, 1982; Prance, 1987). Entretanto, Leal et al. (2003) ressaltam que estudos recentes têm desafiado esse ponto de vista e demonstrado a

importância da caatinga para a conservação da biodiversidade brasileira. A caatinga é uma anomalia

climática e funciona como um importante laboratório para estudos de adaptação a um regime de chuvas altamente variável e estressante por parte das plantas, invertebrados e vertebrados (Leal et al., 2005). Os roedores são animais que apresentam extraordinárias variedades de adaptações ecológicas e suportam os mais variados tipos de climas e altitudes, podendo com isso apresentar grande número de adaptações funcionais. O estudo destes animais contribui para o avanço das ciências morfológicas, ampliando o conhecimento de sua biologia, além disso, vem revelando a grande importância da fauna silvestre da região, e isso tem favorecido a sua preservação.

No nordeste, entre essas espécies está o mocó – Kerodon rupestris, um mamífero roedor da família Caviidae, evolutivamente próximo ao porquinho-da--índia (Cavia porcellus). O mocó ocorre em afloramentos

R E V I S TA P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

DE

*Correspondência: cadumoura@ufrnet.br Magalhães MS et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 49-52

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rochosos na caatinga, é altamente arborícola e se alimenta de folhas e botões das árvores que tendem a se agrupar nesses microhabitats mais mésicos

(Lacher, 1981). É um animal altamente adaptado a condições de temperatura elevada, escassez de alimento e água, principalmente em períodos de grande seca que periodicamente devasta a região do semi-árido nordestino.

O arco aórtico foi estudado em ratos de laboratório (Hebel e Stromberg, 1982), porquinhos da índia (Cooper e Schiller, 1975; Kabak e Haziroglu, 2003), cutia (Carvalho et al., 1993), castor (Grasse e

Dekeiser, 1995), pacas (Oliveira et al., 2001), porcos espinhos (Atalar et al., 2003), gambás (Reckzigel et al., 2003) e chinchilas (Araújo et al., 2004). Para roedores, Grasse e Dekeiser (1995) descreveram que, do arco aórtico origina-se o tronco braquiocefálico, no qual surge primeiro e separadamente a artéria

subclávia esquerda e a artéria carótida comum esquerda.

Depois emergiu um tronco comum formado pela artéria subclávia direita e artéria carótida comum direita.

Verifica-se na literatura a escassez de dados sobre a anatomia dos mocós. O presente trabalho teve como objetivo contribuir com o conhecimento da anatomia desse animal, descrevendo o comportamento do arco aórtico e seus ramos, sendo este o foco de algumas pesquisas envolvendo morfologia de animais silvestres.

Estabeleceu-se assim, um modelo padrão e suas principais variações para esta espécie.

Material e métodos

No presente trabalho foram utilizados 20 mocós (15 machos e 5 fêmeas), que vieram a óbito por causas naturais no Centro de Multiplicação de Animais Silvestres da Universidade Federal Rural do semi--árido do Rio Grande do Norte (CEMAS/UFERSARN), autorizado para criação com fins científicos pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) - registro IBAMA-RN nº 12.492 – 004 (Figura 1). Procedeu-se a seguir a abertura da caixa torácica e do saco pericárdico para posterior corte do ápice cardíaco, objetivando a canulação da Aorta através do ventrículo esquerdo. Em

seguida, foi injetada solução salina para lavagem do sistema arterial, seguindo-se a injeção de neoprene látex 450 corado em vermelho para facilitar a visualização do sistema arterial. As peças permaneceram sob

água corrente por uma hora para polimerização do material injetado. Após este tempo, foram imersas em formol a 10% para fixação, no prazo mínimo de 72

horas. Procedeu-se, então, a dissecação para observação da disposição dos colaterais do arco aórtico. Os

resultados foram registrados através de desenhos esquemáticos e imagens fotografadas.

Para descrever os resultados encontrados utilizou-se a nomenclatura universal do ICVGAN (2005).

Resultados

Em mocó, o arco aórtico originou, primeiramente, o tronco braquiocefálico e em seguida a artéria subclávia esquerda. O tronco braquicefálico, após trajeto no sentido crânio-dorsal, originou as artérias carótidas comum direita e esquerda e lateralmente a artéria subclávia direita. As artérias carótidas comum seguem a área lateral da traquéia, junto com o tronco vagossimpático do sistema nervoso autônomo. A artéria subclávia esquerda originou os seguintes ramos: a artéria vertebral, a artéria torácica interna, o tronco costocervical e a artéria cervical superficial.

Após a emissão desses ramos, a artéria subclávia esquerda, ao alcançar o espaço axilar, passa a ser denominada de artéria axilar e possui um maior calibre em relação aos outros ramos derivados da

artéria subclávia, podendo ser considerada a continuação da artéria subclávia esquerda. A artéria subclávia

direita, embora possua origem cranial e uma trajetória homóloga a primeira, originou os mesmos ramos em todos os mocós estudados.

O comportamento descrito variou em alguns animais a respeito da origem da artéria subclávia direita e das artérias carótidas comum direita e esquerda. Em 13 animais, aproximadamente, 65% dos casos, o tronco braquiocefálico originou primeiro a artéria subclávia direita e em um tronco separado das artérias carótidas comum esquerda e direita surgiram definindo este comportamento de tronco bicarotídeo (Figura 2-A e

Figura 1 - Fotografia do mocó (Kerodon rupestris) em cativeiro no Centro de Multiplicação de Animais Silvestres da Universidade Federal Rural do semi-árido do Rio Grande do Norte (CEMAS/UFERSA-RN).

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Figura 3). Em seis animais, ou cerca de 30%, o tronco braquiocefálico originou primeiro a artéria carótida comum esquerda, depois separadamente um tronco da artéria subclávia direita e artéria carótida comum direita (Figura 2-B). Em um único animal (5%) a divisão do tronco braquiocefálico apresentou um

aspecto de trifurcação dando origem às artérias carótidas comum esquerda e direita e a artéria subclávia

direita (Figura 2-C).

Discussão

O presente trabalho é pioneiro na descrição do arco aórtico e seus ramos no mocó, portanto a discussão a seguir faz uma análise comparativa utilizando os resultados descritos para espécies silvestres, em especial com roedores.

A descrição feita por Grasse e Dekeiser (1995) estabeleceu um modelo comportamental para roedores

onde do arco aórtico originava apenas o tronco

braquiocefálico, de onde primeiro surgia a artéria subclávia esquerda e a artéria carótida comum esquerda e

separadamente emergia um tronco comum formado pela artéria subclávia direita e a artéria carótida comum direita. O arranjo do arco aórtico e seus ramos

em mocó não seguiu essa descrição de padrão comportamental feita para roedores.

Segundo Reckzigel et al. (2003), estudando 28 gambás, do arco aórtico emergiu o tronco braquiocefálico

e a artéria subclávia esquerda. A partir do tronco

braquiocefálico originou-se em 11 animais primeiramente a artéria subclávia direita e, posteriormente, o

tronco bicarotídeo formado pelas artérias carótidas comum direita e esquerda, sendo que este padrão foi coincidente com o encontrado na maioria dos casos (65%) em mocós. Esse comportamento também foi

encontrado em porquinho da índia por Cooper e Schiller (1975) e Kabak e Haziroglu (2003), em cutia por Carvalho et al. (1993), em castor por Grasse e Dekeiser (1995). Entretanto esse comportamento de tronco bicarotídeo foi ausente em pacas (Oliveira et al., 2001), porcos espinhos (Atalar et al., 2003) e chinchilas (Araújo et al., 2004).

Estudos feitos em chinchila por Araújo et al. (2004), verificaram que na maioria dos animais, do arco aórtico surgia o troco braquiocefálico e a artéria subclávia esquerda, e que o tronco braquiocefálico originou primeiro a artéria carótida comum esquerda e logo após, a artéria subclávia direita emergiu em tronco com a artéria carótida comum direita. Esse comportamento também foi encontrado em 30% dos animais utilizados neste trabalho. Esse arranjo apareceu em todas as pacas estudadas por Oliveira et al.

(2001), bem como em ratos de laboratório (Hebel e Stromberg, 1982), cutia (Carvalho et al., 1993), porquinhos da índia (Kabak e Haziroglu, 2003) e como uma variação em gambás (Reckzigel et al.

2003). Outro comportamento encontrado em gambás (Reckzigel et al., 2003) foi a formação, a partir do tronco braquiocefálico, de uma trifurcação que deu origem às artérias subclávia direita, carótida comum direita e carótida comum esquerda. Essa disposição apareceu em 5% dos mocós estudados.

Para Atalar et al. (2003) em porco espinho,

Reckzigel et al. (2003) em gambá, Araújo et al. (2004) em chinchila, do arco aórtico emergiu o tronco

braquiocefálico, a artéria carótida comum esquerda e artéria subclávia esquerda. Essa disposição apareceu

Figura 2 - Representação do arco aórtico e seus colaterais (A-C), no mocó (Kerodon rupestris). 1. arco aórtico, 2. tronco braquiocefálico, 3. artéria subclávia esquerda, 4. artéria subclávia direita, 5. artéria carótida comum direita, 6. artéria carótida comum esquerda

Figura 3 - Fotografia do arranjo mais freqüente do arco aórtico e seus colaterais no mocó. ACCD: artéria carótida comum direita, ACCE: artéria carótida comum esquerda, TBC: tronco bicarotídeo, TB: tronco braquiocefálico, ASD: artéria subclávia direita, ASE: artéria subclávia esquerda

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em todos os casos de porco espinho estudados por Atalar et al. (2003), e como uma variação em gambá (Reckzigel et al., 2003) e chinchila (Araújo et al., 2004). Entretanto em mocó, esse padrão não foi encontrado em nenhuma de nossas preparações, evidenciando que os únicos ramos que emergiram do arco aórtico foram o tronco braquiocefálico e a artéria subclávia esquerda, ocorrendo variação apenas na origem da artéria subclávia direita e das artérias carótidas comum direita e esquerda.

Em resumo, os ramos do arco aórtico em mocós mostraram similaridade aos observados em outros animais silvestres. Os resultados desse trabalho poderão contribuir para o avanço das pesquisas no campo da anatomia comparativa.

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