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2. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

2.1. O Recém-nascido e Família na Unidade de Neonatologia

Complicações durante a gravidez, nascimento e/ou pós-parto podem resultar na admissão de um bebé numa UCN (Kerr et al., 2017). Enquanto a sobrevivência e as perspetivas a longo prazo são prioridade na admissão de uma criança de alto risco, a separação forçada dos pais e das crianças pode ter consequências psicológicas para ambos. Havendo, assim necessidade de desenvolver e avaliar intervenções que ajudem os pais a sentir-se mais próximos dos seus filhos em circunstâncias em que há separação psicológica (Obeidat, Bond & Callister, 2009).

A admissão de um bebé numa Unidade de Neonatologia não é apenas por prematuridade, havendo outras situações, em bebés de termo ou pós termo, que levam ao internamento em Unidades de Neonatalogia. Ainda assim, por ser a razão mais comum haverá mais referências à prematuridade ao longo do texto. Segundo Harrison & Goodman (2015) e Royal College of Pediatrics and Child Health (2015), citado in Kerr et al. (2017) estimativas recentes apontam para 8-12% dos bebés nos países desenvolvidos recebem algum tipo de

cuidado numa Unidade de Neonatologia, sendo a razão mais comum de admissão, a prematuridade.

O início de vida de um bebé num ambiente tão artificial e estranho como uma Unidade de Neonatologia, bem com a situação de vulnerabilidade que justificou o seu internamento são vividos de forma intensa pelos pais, sendo este um período descrito na literatura como extremamente difícil e doloroso, marcado por sentimentos de perda, medo, raiva, culpa e impotência (Diaz, Caires & Correia, 2016).

Sabe-se que, as mães com crianças internadas numa Unidade de Neonatologia, passam por maiores dificuldades na transição para a parentalidade que as mães de bebés saudáveis. Os sentimentos vividos pelas mães são: stress, ansiedade, choque, assustadas e preocupadas, infelizes, impotência, desespero, sentimento de perda da estabilidade emocional, culpa e insegurança (Obeidat et al., 2009).

Vários autores alertam para o facto da interrupção “imposta” pelo internamento numa unidade de neonatologia e as dificuldades emocionais experienciadas poderem inibir o estabelecimento de ligações afetivas entre os pais e o recém-nascido, com significativas repercussões no desenvolvimento e bem-estar do bebé, na autoconfiança dos pais e na sua capacidade para assumirem o papel parental. Pode igualmente constituir um risco para a dinâmica familiar (Diaz et al., 2016).

“Os pais de bebés prematuros ou doentes, têm sentimentos de impotência, na medida em que as necessidades do seu bebé são complexas e a tecnologia usada nas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais, pode ser intimidante. Neste contexto a participação e permanência dos pais no hospital é extremamente benéfica quer para a criança, quer para a integridade da família. Os profissionais das UCIN’s entendem estes sentimentos e sabem que é essencial o envolvimento dos pais nos cuidados.” (SPN, 2016, p.10).

A prematuridade e o cuidar de um bebé frágil são experiências angustiantes para toda a família, podendo atrasar o desenvolvimento de competências maternas, não se devendo negligenciar o processo de transformação da identidade da mulher (Macedo, 2012).

De acordo com a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem, a parentalidade é definida como,

“tomar conta: assumir as responsabilidades de ser pai/mãe; comportamentos destinados a facilitar a incorporação de um recém-nascido na unidade familiar; comportamentos para otimizar o crescimento e desenvolvimento das crianças; interiorização das expectativas do indivíduos, famílias, amigos e sociedade quanto aos comportamentos de papel parental adequados ou inadequados” (OE, 2016, p.38) e a adaptação à parentalidade como:

“comportamentos que incidem no ajustamento à gravidez e em empreender ações para se preparar para ser mãe ou pai; interiorizando as expectativas da família; amigos e sociedade quantos aos comportamentos parentais adequados ou inadequados” (International Council of Nurses, 2016, p.71).

Os objetivos da parentalidade são a promoção da sobrevivência física e saúde da criança, até que esta desenvolva as capacidades necessárias para ser um adulto independente com capacidades comportamentais para otimizar os valores culturais e crenças (Hockenberry, 2014).

A transição para a parentalidade, requer desenvolvimento de competências parentais e é influenciado por fatores: sócio-familiares; relacionados com a própria criança (a idade gestacional, o peso da criança e a sua resposta na interação, podendo agir como fatores inibidores da prestação de cuidados pelos seus pais) e com a preparação para a alta da UCIN.

Esta deve iniciar-se de forma precoce, gradual e sintetizada colmatando todas as dúvidas e necessidades que surgirem ao longo do internamento da criança, descartando os fatores que podem interferir com a capacidade de os pais prestarem cuidados (Macedo, 2012).

Os Enfermeiros da Unidade de Neonatologia, devem desenvolver intervenções e estratégias para minimizar o stress dos pais e apoiar os seus sentimentos a ultrapassar esta situação causadora de stress. Os cuidados centrados na família são essenciais (Obeidat, 2009).

A filosofia de cuidados centrados na família reconhece a família como constante na vida da criança. Dois conceitos básicos dos Cuidados Centrados na Família são: a capacitação e o empoderamento. Os profissionais capacitam as famílias a partir da criação de oportunidades e meios para todos os membros da família revelarem as suas habilidades e competências atuais e

adquirem novas, para atender às necessidades da criança e da família. O empoderamento descreve a interação dos profissionais com as famílias, de forma que estas mantenham ou adquiram um sentido de controlo sobre as suas vidas e reconheçam as mudanças positivas que resultam de comportamentos de ajuda que promovem as suas próprias forças, habilidades e ações (Hockenberry & Wilson, 2014).

Envolver a família no cuidado aos seus filhos é fulcral. Os quatro princípios cuidados centrados na família são: dignidade e respeito, partilha de informação, participação da família nos cuidados. Quando implementado devidamente, o cuidado centrado na família pode reduzir o tempo de internamento, diminuir o risco de readmissão, realçar o resultado da amamentação, impulsionar a confiança da família no cuidado à criança e aumentar a satisfação da equipa (Smith et al, 2013). Ao envolver os pais nos cuidados, estamos a promover a identidade parental e envolvê-los na tomada de decisões aumenta a sua confiança na preparação para a alta (Banerjee et al., 2018).

Os Cuidados centrados na família requerem alguns pressupostos, que pelo pudemos observar, são realizadas na Unidade de Neonatologia onde foi desenvolvido o Estágio, como:

encorajar os pais a participar nos cuidados diários aos seus filhos como: cuidados orais, mudança da fralda, alimentação por sonda e contacto pele a pele. Os pais recebem informações pelos profissionais de saúde e é-lhes fornecido folhetos informativos. Os pais são encorajados a permanecer na unidade neonatal o máximo de tempo possível, havendo obrigação de lhes oferecer comida, alojamento familiar e estacionamento. Devem ser providenciadas cadeiras confortáveis para os pais, para que possam ter longas sessões de contacto pele a pele e amamentação. Inclui, também suporte psicológico adequado para ajudar os pais a ultrapassar o stress e a ansiedade dos cuidados aos seus bebés vulneráveis (Benerjee, 2018).

Os cuidados que foram sendo referidos ao longo do texto têm como finalidade a promoção da saúde e maximização do bem-estar do recém-nascido/família. Para a promoção da saúde, os enfermeiros têm a responsabilidade de ajudar a criança a alcançar o máximo potencial de saúde. Sendo importante neste âmbito: a identificação da situação de saúde da criança/jovem /família bem como os seus recursos e os recursos da comunidade; criação e aproveitamento de oportunidade para promover estilos de vida saudáveis; promoção do potencial de saúde do cliente, otimizando a adaptação aos processos de vida, crescimento e desenvolvimento e fornecer informação geradora de aprendizagem cognitiva e novas

Para a maximização do bem-estar do recém-nascido/família, devem ser implementadas medidas como: identificação dos problemas da criança/família, relativamente aos quais o enfermeiro tem conhecimento estando preparado para prescrever, implementar e avaliar intervenções que contribuam para aumentar o bem-estar e complementar atividades de vida relativamente às quais a criança é dependente (OE, 2011c).