2. Revisão de Literatura
2.2 Organizações de Aprendizado
2.2.1 Capacitação Empresarial
2.2.1 Capacitação Empresarial20
Marshall (1920) é o precursor da abordagem contemporânea de capacitação empresarial, pois foi o primeiro a perceber que as forças produtivas eram mais do que simplesmente a combinação de capital, trabalho e recursos. Em sua visão, empresas, mercados e economias contam com organização e conhecimento, em adição à trinca tradicional de fatores de produção. Mais do que acumular capital, a organização acumula capacitações, conhecimentos, desenvolve sua organização interna (incluindo hierarquia e relações com os trabalhadores), estabelece e amplia sua clientela.
Nonaka, Takeuchi e Umemoto (1996) apresentam uma visão singular do conhecimento na organização. Eles localizam as empresas de acordo com a forma como elas lidam com o conhecimento (conservador, quando se trata do conhecimento existente ou inovador, quando está em busca de novos conhecimentos) e a forma como o aprendizado ocorre, baseado em conteúdos ou baseado nas práticas organizacionais. Eles chegam a um resultado revelador em relação ao caminho que percorre a inovação na empresa, conforme mostra Figura 19.
20 Cabe uma breve definição dos termos treinamento, desenvolvimento e educação. Utilizando o conceito de Vargas e Abbad (2006), treinamento referese a eventos educacionais de curta e média duração, compostos por subsistemas de avaliação de necessidades, planejamento instrucional e avaliação que visam à melhoria do desempenho funcional, por meio da criação de situações que facilitem a aquisição, a retenção e a transferência da aprendizagem para o adulto. A documentação completa de um evento educacional dessa natureza contém a programação de atividades, textos, exercícios, provas, referências e outros recursos. O desenvolvimento referese ao conjunto de experiências e oportunidades de aprendizagem, proporcionadas pela organização e que apóiam o crescimento pessoal do empregado, sem, contudo, utilizar estratégias para direcionálo para um caminho profissional específico. Geram situações similares aos demais tipos de ações educacionais, porém nesse caso, constituemse apenas em ferramentas de apoio e estímulo a programas de auto
desenvolvimento como os de qualidade de vida e gestão de carreiras. A educação, por seu lado, constituise de programas ou conjuntos de eventos educacionais de média e longa duração que visam à formação e a qualificação profissional contínuas dos empregados. Incluem cursos técnicos profissionais, cursos de graduação e cursos de pósgraduação.
Alto potencial
Na busca por inovação, as empresas devem adotar modelos organizacionais flexíveis que permitam a agilidade operacional. O primeiro reflexo observado é o de que os programas tradicionais de capacitação não conseguem atender a essa demanda, por adotarem modelos reativos a partir de métodos de aprendizagem tradicionais.
Nesse contexto, as corporações assumiram o papel de educadoras tendo em vista, principalmente, a rápida obsolescência do conhecimento formalmente adquirido, a necessidade de aprendizado e a reciclagem contínua nas empresas diante da dinâmica do mercado.
Sobretudo, há a necessidade de adquirir competências específicas para o negócio da empresa, o que não era obtido tradicionalmente, já que as empresas praticam gestão competitiva e de caráter estratégico.
O conhecimento, dessa maneira, passa a ser o mais importante dos fatores de produção e, em consequência, dessa conclusão os autores destacam a necessidade da facilitação do processo de circulação e compartilhamento de informações no interior das empresas por meio de canais próprios de comunicação ou fontes especializadas, a fim de provocar um verdadeiro transbordamento de conhecimento.
Pode ser entendido também como a capacidade das empresas se desenvolverem em um ambiente competitivo e inovador, no qual a sobrevivência depende de sua habilidade em
introduzir novas soluções aos problemas dos negócios e em lidar com os problemas que decorrem do crescimento (KERSTENETZKY, 2004).
O processo de aprendizagem hoje, no entanto, é mais do que adquirir a educação formal. O aspecto fundamental do aprendizado atual é a transformação do conhecimento tácito em conhecimento explícito, codificado, para que todos possam ter acesso. As próprias instituições tornam‐se, elas mesmas, organizações de aprendizado, continuamente adaptando, organizando e adquirindo novas tecnologias. E os trabalhadores, por sua vez, devem obter, tanto a educação formal como novos conhecimentos a serem adquiridos ao longo da vida. De fato, a educação deverá estar no epicentro das economias baseadas no conhecimento, utilizando as variadas formas de aprendizado como ferramenta individual e organizacional para os avanços requeridos.
Um aspecto em particular sobre a prioridade assumida para capacitação empresarial são as mudanças tecnológicas, particularmente impulsionadas pelas tecnologias da informação e comunicação, que estão fazendo com que trabalhadores qualificados sejam mais requisitados do que aqueles sem especialização. Essa situação exige o desenvolvimento de políticas públicas, que, no entender da OCDE (1994), deveriam seguir algumas estratégias:
a) investir intensamente no capital humano do país, a fim de que estes recebam novas habilidades e competências para o trabalho;
b) incrementar o Poder de Distribuição do Conhecimento da economia por meio da difusão de tecnologias e de conhecimento em redes colaborativas;
c) prover às organizações as condições para as mudanças organizacionais, com vistas a maximizar os benefícios da tecnologia para o aumento da produtividade.
Em relação ao primeiro item, é indispensável disponibilizar as condições para a colaboração mútua entre universidade, empresa e governo21, a fim de promover a difusão de novas tecnologias para uma ampla gama de empresas. Deve ser uma ação estruturante, incluindo nesse conjunto de ações aquelas com o objetivo de facilitar o desenvolvimento de infra‐estruturas de informação. Sobre a necessidade de elevar o nível do capital humano, as políticas devem visualizar a ampliação de novas habilidades e competências, além de influenciar na capacidade de aprendizado. Isso inclui prover educação formal, criar incentivos para as empresas e indivíduos para se engajarem em aprendizado contínuo e, naturalmente, melhorar a oferta e demanda de trabalho em termos de requerimentos de habilidades. As mudanças organizacionais referem‐se à necessidade de traduzir mudanças tecnológicas em ganhos de produtividade. O governo, por sua vez, deve prover às empresas a infra‐estrutura necessária para que a transição ocorra.
21 A idéia da tríplice hélice (universidade, empresa e governo) entende que a inovação depende da articulação construída entre empresa (que deve promover a interação com os centros de pesquisa), pela universidade (que deve preparar recursos humanos em sintonia com as vocações locais) e pelo governo (que deve ser partícipe deste esforço com estratégias definidas) (LEYDESDORFF, ETZKOWITZ, 1998).