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SitUaçãO.

autarquia. (PovoAlgarvio,28deMaio

de 1938, anoV, n.o209,p.3)

Ainda antes de se enumerarem e caractenzarem detalhadamente os equipamentos ou os projectos culturais que nos princípios da década de 30 nascem para edificar um itinerário sobre a história local e nacional, o entrevistador indica os critérios que um responsável municipal pela cultura deve respeitar: "(...) uma pessoa culta, com bastante geito e vontade de trabalhar". É com Ramos Passos, "homem

cujos

predicados possui incontestavelmente" para envergar

o

estatuto de Vereador da Cultura, que a

vida cultural

e a intervenção patrimonial em Tavira se anima e se dinamiza. A esta figura do executivo camarrírio é apontada a paternidade de um conjunto de obras vocacionadas

paÍa a

preservação

e divulgação do património histórico da cidade:

"a

89 . Povo Algarvio,2S de Maio de I 93 8, ano V, n." 209, p. 3 .

90. Apesar de ter nascido na Fuzeta cedo se estabeleceu em Tavira por aí se ter casado. Assume as funções de Vereador no município tavirense em 1937 e viria a ocupar o posto de Presidente nos finais de 1940, ainda que a título interino (ver Povo Algarvio,Z0 deoutubro de 1940, ano VII, n.o 330, p.2). Entre 1942 e 1946 assegura apresidência a título efectivo. Formado em Medicina, Ramos Passos, trabalha na Casa dos Pescadores mas principalmente no Hospital de Tavira. Morre emTâvira emAgosto de 1980 (Cfr., Ofir Chagas,ob.

cit.,pp.277-280\.

ptig 77

QJggtlizaç1io c l,9m1a9;!o do M.Lrqçg NlLrnicipal d.: T+1qr1 ([9.17-lu.ft;

reorganizaçáo da Biblioteca

Municipal, a

organização do Museu, (...), a reparaçáo nas capelas góticas existentes no antigo cemitério de São Francisco, etc., etc., Tudo melhoramentos para os quais ele tem contribuído com a sua inteligência e boa vontade"]'

Do diáloEo, d seguir descrito, o Vereador da Cultura caracteriza cadauma das obras culturais a começar pela

Biblioteca Municipal.

Instalada

no primeiro piso

das salas anexas à

Igreja

da Misericórdia, a Biblioteca adquire colecções bibliográficas de "escritores contemporâneos dos quais pouco ou nada existia", prometendo a sua aberfura ao público logo após a conclusão dos trabalho s de catalogação, acondicionamento e organ izaçáo das espécies documentais.

Nas

salas

do piso

térreo anexadas

ao corpo da Igreja da Misericórdia, junta-se o

Museu Municipal. Nas palavras do Vereador, encontra-se a unidade museológica "muito bem sifuada", pois quem a visita pode usufruir do "magnifico templo da Misericórdia, que é uma verdadeira obra de arte"" (Arre xur 85 ).

Formam parte das colecções originais do museu "pedras brazonadas e com inscrições, algumas delas cedidas por particulares e outras pelas veneráveis ordens de São Francisco e do Carmo"".' Integra também o corpo dos bens museológicos do Museu

Municipal

a colecção de "moedas antigas e medalhas", ofertas do Eng. Rosado Padinha, António Arnedo e Filipe Monteiro Santos.

Mais peças o Vereador contava ver depositadas no espaço museológico que estava em fase de preparação, "não tivessem saído paÍaos museus Etnográfico de Lisboa e de Faro""1 Ane-ro ,86).

91. Povo Algarttio,23 de Maio de 1938, ano V n." 209,p. 3. Outros órgãos regionais de comunicação acentuam a participação de Ramos Passos nos projectos culturais da cidade como decisiva para a sua concretização. Areabertura da Biblioteca ao público e a criação do Museu Municipal têm a influência directa do Vereador da Cultura (Cfr., O Algante, I de Janeiro de I 939, ano XXXI, n.o I 605, p. 2).

92. Povo Algarvio,2S de Maio de 1938, ano V, n.o 209, p. 3.

Uma dimensão museológica na Misericórdia também pode estar presente. O enceÍramento ao culto e a preservação dos principais testemuúos artísticos deixam que a Igreja se decida inclinar por uma perspectiva simbólica e contemplativa, e menos de carácterutilitário e prático.

A Misericórdia vai despegando-se do título de templo, e passa a receber a função de espaço museológico de arte sacra e história de arte.

Esta câmara de objectos artísticos musealizados, açaba por fazer um elo de ligação, a transição entre o museu monumental, construído, in sifu, e o museu das colecções, das mensagens culturais evalonzação do património, que pertence ao espaço museológico municipal, enffegue às colecções artísticas móveis, com outros temas.

t)3.Idem, ibid.,p.3.

1.,.i..: 178

I

Or*{utrzaçilt-r !' fl.)I.l1lçír!l d_o N{nscLr JVunie ipal rlc [-avira ( l9-17- la-1{)y

O lamento que o Vereador da Cultura esboça na entrevista, sinaliza o descontentamento pessoal mas também da cidade, pela apropriação que os museus nacionais e

distritais

fazem dos bens patrimoniais de Tavira. As precárias condições fisicas que a Misericórdia oferece para instalar o

Museu Municipal,

as carências

de

pessoal técnico

e de

orçamentos

para a

preserv açáo e

valonzação dos bens museológicos, entre outros factores de política museologica nacional ,'51eva outras entidades museológicas, dotadas de recursos mais vantajosos, a responsabilizarem-se

t)1" Idem, ibid.,p. 3. Seria esse o destino normal dos bens patrimoniais sempre que as instalações museológicas do local da sua proveniência enfrentassem problemas de acondicionamento e segurança (Cfr., Antonio Jorge Carrilho, O Museu Arqueológico e Lapidar Infante D. Henrique. Subsídios para a sua história, 2002, pp. 27-28). Num levantamento das peças em exposição no Museu Arqueológico e Lapidar Infante D. Henrique feito pelo Cónego Monsenhor Pereira Botto, fundador e antigo responsável, nos finais do século XIX, surgem diversos achados arqueológicos do concelho de Tavira. Maioritariamente de origem romana, achados na antiga cidade romana de Balsa (freguesia da Ltn de Tavira), as peças arqueológicas tocam diferentes categorias e funções: fragmentos cerâmicos ornamentados, lucernas, moedas e alfinetes de cabelos (Cfr., Idem, ibid., pp. 9l-94; alguns desses objectos permanecem actualmente nesse espaço museológico - Cfr., Câmara Municipal de Tavira, Correspondêncta Recebida, n.o 011926,22 de Março de 2002; Monseúor Cónego Botto, Glossárto critico dos principaes monumentos do Museu Archeologico Infante D. Henrique,l899,p.32;42).Muitas dessas peças foram doadas por João Luiz Mendonça e Melo (António Carrilho, ob. cit., pp. 91-94), proprietário da Quinta das Antas, que ordenou a realizaçào de escavações na sua quinta, onde se descobriram vestígios de povoações balsenses, isto é, romanos (Carlos Fabião, Arqueologta de Tavira,2003,pp. 13-15). Na opinião do Monseúor Cónego Botto este doador era

"umdosmaisaffecfuososdotadoresd'estenascentemuseu"(Cfr.,MonsenhorCónegoBotto, ob.cit.,p.32).

Além daqueles achados arqueológicos a época medieval cristã em Tavira também encontra representação no Museu de Faro através da preservação de uma lápide do Castelo de Tavira. Ela indica a comemoração das obras régias no casteloamandodeD.Dinis,vindoaserpostanaportadaAlcáçova(Cfr.,MárioJorgeBarroca, EpigrafiaMedieval Portuguesa (862-1422),2000,p.1092). Demonsffaria serum objecto apreciado e relevanre, segundo o conservador do Museu Infante D. Henrique, enquanto vestígio, fonte de estudo e compreensão da escrita antiga nacional e sua evolução, oferecido pelo Sr. Eng. e conselheiro Joaquim de Pires Sousa Gomes (Cfr., Monsenhor Cónego Botto, ob.

cit.,pp.109-112).

q5. O tecido museológico nacional que vigorava antes de se entrar no período político do Estado Novo repartia os museus em duas categorias: museus nacionais e museus regionais. Preocupações de diversa índole relacionados

com

o

património histórico do país estão retratados nos instrumentos legais propostos na

I

República,

responsabilizando o museu a um papel fulcral nessas tarefas. Duas ideias centrais podem ser invocadas no contexto dos textos jwídicos sobre o património cultural português nesse tempo. Primeiro, a projecção do bem cultural como elemento revelador de identidade nacional, e em segundo, os museus nacionais e regionais vistos como os guardiões dos valores culturais, históricos e artísticos (Cfr., Sérgio Lira, Museums and temporary exhibitions ...,

p.

66).

Concentravam-se em Lisboa a maioria dos museus nacionais. As cidades de Coimbra e do Porto também tiúam o seu nome na lista dos principais museus do país. Mandavam os preceitos legais que estes museus se tornassem os mais competentes representantes "of Portuguese cultural values, especially with regard to an. National collections, or objects with national importance because of their value or significance, were to be kept in these national museums" (Cfr., Idem, ibid.,p. 67).

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I

L)rganizaçâo c t,orn1.qq.q,!r.r Nlu.scu Mç1nlclipql dcl Tar,ira ( lq37-!91q1

pelo depósito de objectos provindos de diversos locais.

A criação de

unidades museológicas

distritais e

centrais, mandatadas

para dignificar

a preservação do património cultural, estratégia alimentada através do apoio de investigadores e

estudiosos, toca num ponto sensível à população local: privação dos referentes da cultura e do património histórico local.

A caminho dos

Museus

Etnográficos de Lisboa e de Faro,

seguem

de Tavira,

objectos