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8.2 - QUE INDICADORES PARA A ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO LOCAL?

Verifica-se, contudo, que existe uma tendência em reduzir a noção de desenvolvimento à sua dimensão económica, não dotando a dimensão social e cultural da

1 - idem, p. 72

sua verdadeira importância.

Deste facto não estão ausentes os indicadores económicos associados ao crescimento do PIB, ao investimento económico e ao consumo, que assumiram, durante muitos anos, as funções de verdadeiros indicadores de desenvolvimento de uma dada sociedade.

Posteriormente, foram integrados um conjunto de indicadores sociais, como a taxa de escolarização, a generalização do sistema de saúde, a taxa de urbanização, a expansão dos meios de comunicação social e das novas tecnologias, onde a informática e a taxa de utilização da internet começam a assumir cada vez maior importância.

Hoje, começa a estar na ordem do dia o aumento de importância dos indicadores referentes às empresas e a produção local, assim como começa a assumir contornos de extrema importância a participação dos cidadãos na vida política local.

Embora haja a perfeita consciência da limitação destes indicadores quantitativos em medir o desenvolvimento, a maior parte dos investigadores tem vindo a propor o recurso a novos processos de investigação, com recorrência a metodologias que privilegiem a dimensão qualitativa dos processos de desenvolvimento.1

Destas propostas ressaltam as que foram publicadas em 1984 pela UNESCO, por Lê Thanh-Khoi (1984) e Bernard Rosier .

Para Lê Thanh-Khoi a análise do desenvolvimento deve ser feita partindo do princípio que este constitui um fenómeno global, não podendo essa globalização ser reduzida a uma única dimensão. Então, como alternativa, propõe a utilização de um conjunto de indicadores subdivididos em três grandes grupos:

indicadores económicos, que englobam o capital, o trabalho, os recursos naturais e a produção;

indicadores sociais, que incidem sobre a alimentação, a saúde, habitação, emprego, participação e desigualdades de rendimentos;

indicadores culturais, que contemplam a educação, a ciência, a tecnologia, as actividades culturais, a comunicação.

1 - Cf. AROCENA, José (1986) - Op.cit., p. 175

Salienta-se, ainda, o facto de no grupo dos indicadores sociais, os indicadores participação e desigualdade assumirem a preocupação qualitativa do autor.

Bernard Rosier (1984) embora também aborde a temática dos indicadores, preocupa-se em desenvolver um conjunto de relações que revelem:

o tipo de desenvolvimento e a forma de relação estabelecida com a natureza;

o tipo de desenvolvimento e a divisão técnica do trabalho;

o tipo de desenvolvimento e a satisfação das necessidades, desenvolvimento autónomo e desenvolvimento das forças produtivas;

o tipo de desenvolvimento e evolução dos papéis sociais.

Com estas temáticas, Rosier pretende propor um conjunto de vias alternativas e novos indicadores que não se radicam no campo estritamente quantitativo, alargando-se às potencialidades que os indicadores qualitativos apresentam, e cujo recurso possibilita uma nova abordagem em torno da forma de determinar o desenvolvimento.

Na abordagem que faz sobre a evolução dos papéis sociais, Rosier vai considerar três dimensões nas quais vai propor um conjunto de indicadores de natureza qualitativa:

controle dos meios de produção e sua relação com os papéis sociais;

participação dos cidadãos e sua relação com os papéis sociais;

possibilidades de emancipação pessoal e colectiva.

Na opinião deste autor, esse conjunto de indicadores quantitativos vai complementar os tradicionais indicadores qualitativos, nomeadamente as taxas de emprego e de população urbanizada

Importa, contudo, ressalvar que os indicadores utilizados para medir o desenvolvimento local ao serem definidos, vão implicar que seja estabelecida uma noção de local.

No entanto, pela sua abrangência, surge um conjunto de interrogações sobre o uso dessa noção, ou seja, quando estamos a referir o local essa referência é feita tendo em atenção uma concepção geográfica, uma delimitação político-administrativa ou um

aspecto económico? Ou, se quisermos utilizar uma maior precisão, estamos a fazer referência a territórios, a comunidades/colectividades locais ou a bacias de emprego?

Ao abordarmos esta questão do desenvolvimento local, parece-nos que todas estas noções devem ser consideradas pertinentes uma vez que, ao deixarmos para trás alguma delas, corremos o risco de ficarmos com uma análise incompleta, quiçá enviesada, sobre o fenómeno.

Como refere José Arocena “O «local» existe a partir de uma identidade territorial inscrita num sistema de relações de poder «centro-períferia» e estrutura-se como sistema sócio-económico singular”.1

Por outro lado, todas estas dimensões que são parte integrante do local vão contribuir para responder à questão que é levantada pela relação local-global, ou seja, à relação que as dimensões do local mantêm em conexão quer com o território nacional, quer com o Estado, quer com a estrutura produtiva da sociedade.

Analisar esta relação leva-nos a verificar que existem três grandes formas de leitura, de acordo com as correntes que abordam o desenvolvimento.

Para os teóricos que se enquadram na corrente evolucionista, o local apresenta-se como uma força de resistência, ou seja, como força de bloqueio, à mudança produzida pelas forças macrosociais provenientes do nível global.

O desenvolvimento apresenta-se, para esta corrente, como um processo contínuo, ininterrupto, que evolui para situações mais complexas e ao qual se opõe o local, que possui uma grande carga conservadora e que se apresenta como o grande opositor a esta evolução e o grande construtor de obstáculos ao desenvolvimento preconizado.

Numa perspectiva teórica contrária à anterior, a chamada corrente historicista considera que o local funciona como uma ligação forte entre as sociedades tradicionais, assentes em processos de interconhecimento e de convivialidade e as sociedades industriais e pós-industriais, produtoras de relações sociais cada vez mais manifestas e anónimas.

Para esta corrente, todos os processos de desenvolvimento são portadores de especificidades próprias e apresentam-se renovados, pelo que o local é interpretado como um detentor de uma imensa riqueza que não pode ser ignorada.

1 - idem, p. 179

A terceira forma de abordar o desenvolvimento é proveniente da chamada corrente estruturalista que reduz o local a uma reduzida dimensão, esmagado pelo global, que por sua vez é apresentado como possuidor de grandes dimensões e que imprime ao local as categorias que são produzidas pela sociedade global. Nesta perspectiva, o desenvolvimento é conceptualizado a partir de um conjunto de processos de dominação hegemónica da estrutura sócio-económico que age sobre as restantes e que define o local como um espaço de reprodução dessa dominação.

Perante esta diversidade de concepções sobre o desenvolvimento local, a opção que se faça terá, obviamente, que ter em conta as consequências metodológicas de tal escolha, isto porque é importante a relação que se estabeleça entre a natureza dos indicadores utilizados, para medir o efeito de desenvolvimento a partir das iniciativas locais, e a metodologia utilizada.

9 - OS PARADIGMAS DO DESENVOLVIMENTO