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Ave, Eva! Salve, Eva!

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Academic year: 2022

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Texte intégral

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I N T E R F A C E S B R A S I L / C A N A D Á , R I O G R A N D E , N . 5 , 2 0 0 5

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ESPECIAL

Ave, Eva! Salve, Eva!

Noël Audet

Dia-catástrofe. Partida de Eva, como uma grande ruptura.

Por que isso sempre nos atinge tão fundo no coração, mesmo quando é algo que se espera, em função dos prognósticos e estatísticas do corpo médico? Por que, mesmo quando sabemos que é inelutável e acreditamos já ter cumprido nosso trabalho de luto? Sem dúvida porque recusamos acreditar no inelutável, assim como o espírito de Eva se negava a abandonar o combate mesmo que tivesse perdido a maioria das batalhas nesses últimos meses. Quando a última batalha está objetivamente perdida, o luto precisa ser então recomeçado. Recomeço.

Minha amiga Eva LeGrand, Eva Bitnerova, aquela que nos meus e-mails eu chamava de Evitchka – que não perdia a oportunidade de me retribuir tornando tchecos meu nome e o de Lyse –, minha grande amiga Eva se foi. No entanto a recebi no quintal da minha casa, não faz muito tempo. A morte é uma subtração que sempre permanecerá incompreensível no universo afetivo, e até mesmo no universo racional. Eva LeGrand ainda tinha tantas coisas a dizer e a escrever; até sonhava, quando tivesse finalmente tempo, dizia, em iniciar a escrita de um romance; e o que me deixava entrever não era nada banal, muito pelo contrário: nada menos do que uma deriva mirífica.

Ela, minha Evitchka, com a saúde física e moral tão límpida, quase tonitruante, deixando a todos com inveja; e seu riso de clarim, verdadeiro como o de uma criança; seu incrível apetite no banquete da vida, foi roída – literalmente devorada, apagada – por um câncer que poderia ter sido uma simples pedra no caminho. Mas foi necessário que o diabólico recidivasse e voltasse uma vez mais e outra.

Só para implicar com o Luc, eu dizia que Eva era minha

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amante... intelectual. Bom jogador, Luc dizia que ela já era amante de Kundera... Não importava, ela era minha amante intelectual; e também minha Eva luminosa, com seu riso ensolarado, a clareza do espírito, sua palavra cortante. Fizemos apostas com relação aos nossos respectivos cânceres, lhes declaramos guerra, brindamos à sua morte em libações alegres. Mas eis que metade de nossa guerra foi perdida! Ao menos tivemos a felicidade de brincar muitas vezes na fronteira dos interditos, na delinqüência sublime, quando a razão cede lugar à criatividade. Era ela quem me abria a janela do inédito, da fantasia, do rigor. Especialista em Milan Kundera, Eva também era kunderiana no espírito: possuía as contradições de suas personagens romanescas e, igual a elas, tinha também uma fantástica lucidez.

Insubstituível Eva, verdadeiramente insubstituível. Para mim, indubitavelmente para todos.

Num dia de catástrofe como esse, sentimos necessidade de ser acalentados... mas por quem? Por aqueles ou aquelas que nos deixam? – quando deveria ser o contrário: nós é que deveríamos consolá-los por terem perdido tudo, até mesmo a vida. Mas nem a primeira, nem a segunda escolha são possíveis.

Viramo-nos enfim à própria vida, para que se encarregue de suprir o inominável vazio. “Acalenta-nos”, gostaríamos quase de lhe dizer, “já que acabas de nos matar”.

Consolo-me, no entanto, dizendo a mim mesmo que nossa Eva não desapareceu completamente. Ela sempre viverá em nossas memórias e nossos corações, “sempre” estendendo-se pelo menos no espaço de nossas próprias vidas; viverá igualmente nos seus escritos, onde encontramos sua personalidade, seu estilo, e onde até podemos ouvir algumas vezes o seu riso.

Obrigado, Eva, por teres ficado conosco durante um tempo, certamente breve demais; mas digamos que te vingaste bem, tornando esse tempo três vezes mais intenso pela própria intensidade, esquentando nossos traseiros no inferno de tuas perguntas falsamente ingênuas.

Possa a tua lembrança, Evitchka, viver sem fim!

7 de julho de 2004

(trad. do francês por Dominique Boxus, UFRGS)

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