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Jean-Yves Durand (org.), Os “Lenços de Namorados”: Frentes e Versos de um Produto Artesanal no Tempo da Sua Certificação

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Academic year: 2022

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Etnográfica

Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia  

vol. 13 (1) | 2009

Vol. 13 (1)

Jean-Yves Durand (org.), Os “Lenços de Namorados”:

Frentes e Versos de um Produto Artesanal no Tempo da Sua Certificação

Paulo Ferreira da Costa

Edição electrónica

URL: https://journals.openedition.org/etnografica/1288 DOI: 10.4000/etnografica.1288

ISSN: 2182-2891 Editora

Centro em Rede de Investigação em Antropologia Edição impressa

Data de publição: 2 maio 2009 Paginação: 231-232

ISSN: 0873-6561 Refêrencia eletrónica 

Paulo Ferreira da Costa, «Jean-Yves Durand (org.), Os “Lenços de Namorados”: Frentes e Versos de um Produto Artesanal no Tempo da Sua Certificação», Etnográfica [Online], vol. 13 (1) | 2009, posto online no dia 16 maio 2012, consultado o 11 fevereiro 2022. URL: http://journals.openedition.org/etnografica/

1288 ; DOI: https://doi.org/10.4000/etnografica.1288

Etnográfica is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

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RECENSÕES X 231

Jean-Yves Durand (org.)

OS “LENÇOS DE NAMORADOS”:

FRENTES E VERSOS DE UM

PRODUTO ARTESANAL NO TEMPO DA SUA CERTIFICAÇÃO

Vila Verde, Município de Vila Verde, Proviver EM, 2008, 2.ª ed. (revista e aumentada), 302 páginas.

Os “lenços de namorados” constituem um tipo de produção artesanal certificada recentemente no âmbito do Programa para a Promoção dos Ofícios e das Microempre- sas Artesanais (IEFP), bem como da legis- lação de enquadramento em vigor desde 2001 / 2002, sendo objecto de regulamen- tação a área de produção, as matérias-pri- mas e os processos técnicos e decorativos admissíveis para a confecção dos lenços, mas também as próprias formas e dimen- sões destes.

Foi ao desafio colocado por este processo de certificação, liderado por várias entida- des de promoção do desenvolvimento local, que a equipa organizada por Jean-Yves Durand procurou responder, caracterizando o universo dos “lenços de namorados”, e é precisamente desse estudo e reflexão que o livro aqui em apreço dá conta e de que veio a resultar, já em 2007, a reformulação dos critérios de certificação anteriormente apli- cados aos lenços.

No processo de interrogação e caracte- rização desta produção têxtil, o trabalho da equipa liderada por Jean-Yves Durand des- cobriu um universo verdadeiramente poli- morfo, contraditório dos discursos sobre ele construídos às escalas local, regional e nacional, sobretudo desde as décadas de 1980 / 1990, e cuja ampla diversidade – de ordem tipológica, técnica, artística, terri- torial e funcional, mas também quanto às diferentes ordens de valores de que os len- ços são investidos e aos seus âmbitos sociais de produção e consumo – parece ela própria

contraditória de qualquer esforço de regula- mentação do que pode ou não ser designado e reconhecido como “lenço de namorados”.

Para além do trabalho etnográfico junto de bordadeiras (e bordador), a caracteri- zação deste universo resultou, em grande medida, da análise material de um grande quantitativo de lenços – não apenas da pro- dução contemporânea destinada ao mer- cado e de exemplares privados observados em trabalho de terreno, mas de diversas colecções, privadas e de museus – ampla- mente documentado nas 291 imagens que ilustram o livro.

Muito diversificadas, as colaborações do livro estenderam-se para além da perspec- tivação antropológica. Conta-se entre estas o importante esboço historiográfico de Ana Pires, que situa as incógnitas das ori- gens dos lenços de namorados por relação com outros tipos de bordado em Portugal, bem como o que estes revelam em termos de organização do trabalho, questões de género e diferenciação social, retomados por Jean-Yves Durand para o presente e pretérito etnográficos dos lenços. A con- tribuição de Adriano Basto, centrada sobre os textos reproduzidos nos lenços e o que eles revelam de norma e desvio linguístico, é também recentrada e desenvolvida por Jean-Yves Durand a propósito de um dos vectores de legitimação da genuinidade dos lenços de namorados.

Responsável pela análise da bibliogra- fia de referência produzida sobre os lenços desde finais do século XIX e do que a mesma foi revelando das imagens e discursos erudi- tos construídos em torno desta produção, Clara Saraiva aborda este universo a partir de perspectivas como os ritos de passagem, a lógica da dádiva e a construção social dos géneros e das respectivas emoções. Ana- lisa ainda os processos de emblematização, identitária e / ou mercantil, de que os lenços têm vindo a ser objecto, transportando-nos inclusivamente para algumas das dimensões

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psicológicas da actividade de bordadeira.

Mónica Pinho, por seu turno, é responsá- vel pelo capítulo onde se transcreve parte das entrevistas por si realizadas junto das bordadeiras (e bordador), que nos reme- tem, em discurso directo, para essa multi- plicidade de percursos e de soluções, que os lenços espelham e que constitui uma das principais razões para as dificuldades da sua classificação morfológica.

Cerzindo, e frequentemente sistemati- zando os diversos problemas e planos de análise suscitados pelos demais elementos da equipa, a vasta contribuição de Jean-Yves Durand desenvolve-se a partir da certifica- ção dos lenços, designadamente enquanto motor e reflexo de processos de patrimo- nialização e mercadorização da cultura popular. Desconstrói discursos e imagens em diversas escalas e contextos e interroga em permanência as lógicas e os fundamen- tos (de ordem económica, financeira, social, identitária, psicológica, etc.) desse processo de certificação. Identifica, inclusivamente, problemas passíveis de serem colocados a esse processo num futuro próximo, mas, não obstante, pondera posições (maximalista vs. minimalista), propõe soluções e sugere o estabelecimento de parâmetros específicos para a concretização dessa certificação.

Elaborado em equilíbrio entre o dis- curso académico e a divulgação científica, este trabalho é particularmente importante para pensar os princípios e os dilemas éti- cos inerentes à sua realização – aos quais Jean-Yves Durand dá recorrentemente voz – e que decorrem do facto de que, sendo resultado de uma interrogação da reali- dade social dos lenços de namorados, ele é, simultânea e assumidamente, um dos ins- trumentos no processo de (re)construção dessa realidade.

Trata-se, em suma, de um olhar dis- tanciado sobre um processo de patrimo- nialização que identifica, inclusivamente, as contradições desse mesmo processo,

quando, por um lado, potencia novos merca- dos e novos consumos e, como tal, promove a revitalização desse produto, mas, por outro, cristaliza os parâmetros da sua pro- dução, reduzindo as possibilidades da sua inovação no âmbito de uma realidade social em permanente mudança. É, contudo, um olhar sobre um processo de patrimoniali- zação em que a própria equipa participou, com efeitos nas próprias dinâmicas sociais inerentes à produção, consumo e valoração dos lenços.

Neste sentido, a importância do livro não se esgota apenas no seu objecto e con- teúdos, sendo igualmente bom para pensar processos de patrimonialização inerentes à revitalização de técnicas “populares” e “tra- dicionais” e à revalorização dos respectivos produtos, em particular no âmbito de pro- cessos de certificação artesanal.

Sendo um bom exemplo do papel que os antropólogos podem desempenhar fora do âmbito académico (designadamente em terrenos de reflexão sobre objectos tradi- cionais da disciplina, contribuindo com as suas competências específicas para a pro- gramação e aplicabilidade de tais processos de patrimonialização / certificação e habili- tando de forma qualificada as decisões de ordem política, económica, ou outras, que lhes darão execução), Os “Lenços de Namora- dos”: Frentes e Versos de um Produto Artesanal no Tempo da Sua Certificação é, em particular, um importante contributo para pensar os desafios que se colocam à antropologia no recente contexto de valorização da cultura popular tradicional, quer a partir dos cam- pos da economia, do desenvolvimento e do turismo, nos quais se centram os processos de certificação artesanal, quer estritamente no campo patrimonial, no recém-consti- tuído domínio do “património cultural imaterial”.

Paulo Ferreira da Costa

Instituto dos Museus e da Conservação

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