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A agricultura de conservação e a sementeira directa em pastagens

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Academic year: 2022

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CABEÇA

dossiEr téCniCo

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Perante o cenário da população mundial atin­

gir os 9 biliões em 2050, 90% dos quais em países em desenvolvimento com grandes li­

mitações à produção, o desafio será produzir e fornecer o alimento necessário, seguro e nutritivo, de uma forma sustentável para uma população mundial crescente (mais de 9 bi­

liões até 2050).

O consumo per capita de carne nos países em desenvolvimento que foi de 10,2 kg por ano em 1965, deverá subir para 36,7 kg em 2030, o que aumentará os preços dos cereais e os consu­

mos de água. De facto o consumo de carne per capita nos países em desenvolvimento dupli­

cou (14­28 kg) entre 1980 e 2002 e a produção de biocombustíveis com produtos agrícolas vai continuar a aumentar (a produção baseada em produtos agrícolas mais do que triplicou 2000­

­08). Em 2007 ­2008 a utilização total de cereais na produção de álcool chegou a 110 milhões de toneladas, cerca de 10% da produção mundial.

Perante esta tendência o Banco Mundial estima que a produção de cereais deve aumentar em 50% (de 2,1 a 3 bilhões de toneladas) e a produ­

ção de carne em 85% (para atingir 470 milhões de toneladas) entre 2000 e 2030 para atender às necessidades. Ou seja, até agora a agricultura mundial tem sido capaz de atender à crescente necessidade de produtos agrícolas mas a segu­

rança alimentar é mais do que apenas a garan­

tia de que haverá o que comer amanhã. Entre­

tanto, segundo o International Soil Reference and Information Centre, durante os últimos 40 anos, 30% dos solos destinados à agricultura (1,5 biliões de hectares), foram abandonados devido à erosão e à sua degradação. Assim, o solo agrícola produtivo é um ecossistema não renovável em perigo. Degrada­se a uma veloci­

dade muito maior que a sua regeneração, que é um processo muito mais lento. Serão necessá­

rios aproximadamente 500 anos para “refazer”

25 mm de solo perdido por erosão. São perdi­

dos para a agricultura anualmente cerca de 2 milhões de hectares entre outras causas devi­

do à severa degradação dos solos.

Sendo o solo a base para a produção de ali­

mentos para a humanidade e o suporte para

os sistemas agro­pecuários, importantes não só numa perspectiva de produção de alimen­

tos, mas também com interferência a nível da ocupação do espaço, do ordenamento do ter­

ritório, do ambiente e da sustentabilidade do Mundo Rural, é por isso necessário mantê­lo com as suas características de origem, even­

tualmente melhorá­las evitando que seja de­

gradado, erosionado e transportado por escor­

rência para os ribeiros, rios, barragens ou para o mar. Será pois importante, fazer agricultura procurando manter ou melhorar a fertilidade do solo, de forma que as gerações futuras pos­

sam obter produtividades iguais ou superiores às que se obtinham no modo convencional, melhorando a sua qualidade de vida.

O conceito de agricultura de conservação, vi­

sa inverter o ciclo de degradação associado à instalação e manutenção de culturas no modo convencional com o recurso à mobilização do solo. Pretende­se a recuperação da fertilidade

dos solos degradados e prejudicados na sua estrutura através da agricultura de conserva­

ção, adoptando as práticas fundamentais para o sistema, como a sementeira directa, a manu­

tenção de resíduos à superfície e a rotação de culturas, para além de outros princípios e prá­

ticas acessórias (controlo integrado de infes­

tantes, utilização de tractores leves e aplica­

ção de rodados duplos traseiros, ordenamento do pastoreio, etc.).

A sementeira directa na instalação e melhoramento de pastagens

Em agricultura convencional com recurso à mobilização do solo, os efeitos negativos des­

ta na instalação e manutenção das culturas, não é sustentada nem agronomicamente, nem ambientalmente, nem economicamente. No caso da instalação das pastagens, estes efeitos são perfeitamente compensados pelos efeitos melhoradores durante o alargado período de

A agricultura de conservação

e a sementeira directa em pastagens

A sementeira directa parece-nos uma técnica possível de utili- zar de uma forma sustentada (agronómica; ambiental e econo- micamente) na instalação e certamente no melhoramento de pastagens.

Ricardo Freixial, Mário Carvalho . Universidade de Évora

Figura 1 – Pastagem instalada em sistema convencional com recurso à mobilização do solo

Figura 2 – Semeador de sementeira directa

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duração destas no terreno, sendo possível a recuperação da fertilidade do solo através da melhoria das suas características FÍSICAS (erosão e manutenção ou melhoria da estrutu­

ra), QUÍMICAS (elevação do teor de matéria orgânica), e BIOLÓGICAS (criação e manu­

tenção de condições favoráveis para a vida dos organismos) do solo.

De facto, a instalação de pastagens com se­

menteira convencional com o recurso a opera­

ções de mobilização do solo:

• Deixa o solo nu e mais sujeito ao impacto provocado pela gota de chuva e a outros agentes erosivos (Figura 1);

• Cria condições para uma menor capacidade de suporte para os animais face à necessi­

dade de pastorear de Inverno (1.º ano para controlo de infestantes) (Figura 1);

• Com custos de instalação mais elevados.

Eliminando as operações de mobilização do solo utilizadas no sistema convencional, a SE­

MENTEIRA DIRECTA (operação de semen­

teira de culturas em solos não mobilizados me­

canicamente e nos quais a única preparação mecânica é a abertura de um sulco que apenas possui a secção e profundidade suficientes pa­

ra garantir uma boa cobertura da semente):

• Permite a renovação da pastagem (introdu­

ção de gramíneas/leguminosas) sem afec­

tar o “substrato” existente;

• Permite o efeito continuado no ano de ins­

talação o que é importante sobretudo aten­

dendo aos lentos ritmos iniciais de cresci­

mento da maior parte das espécies utiliza­

das na instalação de pastagens;

• Evita a elevada susceptibilidade do solo à erosão provocada pela chuva e o vento (ma­

nutenção de resíduos e quase nula perturba­

ção do solo);

• Reduz significativamente os custos de ins­

talação/renovação.

A opção pela instalação ou melhoramento de pastagens através de sementeira directa, obri­

ga tal como para as restantes culturas arven­

ses, à escolha criteriosa do equipamento de se­

menteira (semeador) (Figura 2) que deve pos­

suir entre outras as seguintes características:

• Robustez e durabilidade;

• Elevada capacidade de penetração em solos não mobilizados;

• Possibilidade de operar com resíduos à su­

perfície;

• Capacidade de regulação dos distintos ór­

gãos para as diferentes condições do solo na altura da sementeira;

• Boa capacidade de regulação da densidade e sobretudo da profundidade de sementeira (sementes de calibre reduzido);

• Órgãos eficazes na abertura do sulco, deposi­

ção da semente e fecho do sulco para uma boa emergência (bom contacto semente­solo).

A OPORTUNIDADE NA SEMENTEIRA é fundamental para garantir o êxito na instala­

ção da pastagem:

ANTES DAS PRIMEIRAS CHUVAS

Partindo do princípio que o semeador de se­

menteira directa disponível para a instalação da pastagem possui capacidade de operar em solo coeso (não confundir com solo compacta­

do) antes da ocorrência das primeiras chuvas (Figura 5), esta será também em sementeira directa a melhor época não só porque as espé­

cies instaladas e a vegetação espontânea terão nestas condições igual capacidade competiti­

va como também pela rápida emergência (com frequência as espécies semeadas germinam antes das espontâneas) e nodulação efectiva das leguminosas que tais condições propor­

cionam (temperatura do solo mais elevada) (Figura 6). Em alternativa pode­se semear logo após as primeiras chuvas, mas antes da germinação da vegetação espontânea.

O risco de maior infestação que naturalmente é de esperar nestas condições de sementeira (vis­

to não haver enterramento das sementes das infestantes situadas na camada superficial do solo), é no caso da instalação de pastagens um aspecto perfeitamente calculado, pois o pasto­

reio de Inverno, como regra aconselhado para a redução do grau de infestação no ano de ins­

talação, resolverá facilmente o problema, tanto

mais que a oportunidade de pastoreio será em sementeira directa muito maior comparativa­

mente com a forma convencional de instalação com recurso à mobilização do solo, uma vez que a baixa coesão do solo aumenta os riscos de ocorrência de danos mecânicos na pastagem, provocados pelo pisoteio dos animais.

Esta estratégia de semear antes e logo após as primeiras chuvas, será sempre de recomendar quando a pastagem natural for interessante e se pretende com a nova sementeira, uma me­

lhoria da sua composição florística.

APÓS AS PRIMEIRAS CHUVAS

Aguardar pela ocorrência das primeiras chuvas (que nem sempre acontecem no cedo) irá pro­

porcionar à vegetação espontânea uma maior capacidade competitiva que resultará para as espécies instaladas num prejuízo no seu cres­

cimento e desenvolvimento inicial (Figura 7).

A “janela de oportunidade” para a instalação nestas condições é muito reduzida no tempo

Figura 3 – Órgão de regulação da densidade de sementeira em semeador de sementeira directa

Figura 5 – Instalação de pastagem com sementeira directa (Herdade da Lobeira)

Figura 6 – Emergência da pastagem instalada com sementeira directa (Herdade da Lobeira)

Figura 4 – Sucesso na emergência de pastagem com sementeira directa

Figura 7 – Após as primeiras chuvas alguns dias apenas são suficientes para conferir maior capacidade competitiva às infestantes…

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pois no início da estação no Outono, após as primeiras chuvas, alguns dias apenas são su­

ficientes para conferir maior capacidade com­

petitiva às infestantes…

Por outro lado o atraso na instalação da pasta­

gem, visando a prévia emergência das infestan­

tes para posterior controlo em pré­sementeira com um herbicida total, sistémico e sem acção residual (ex: Glifosato), nem sempre é possí­

vel pois o adiantado da data e o consequente abaixamento das temperaturas não são favorá­

veis à instalação de espécies sensíveis, como a maior parte das leguminosas utilizadas (atraso na emergência e deficiente nodulação).

O êxito dependerá do início da estação das chuvas. Assim, em anos nos quais esta ocorra cedo, é viável aguardar pela germinação das infestantes para depois as controlar, permi­

tindo a sementeira directa uma maior flexi­

bilidade na decisão e verificando­se até que a sementeira directa, após aplicação de herbici­

da total, pode contribuir ainda para reduzir o grau de infestação da pastagem instalada, nu­

ma situação de elevada pressão de infestação (pastagem natural).

Qualquer destas opções ou a utilização de to­

das elas, são no entanto perfeitamente compa­

tíveis com a estratégia agronómica e economi­

camente sustentada (diminuição dos riscos de insucesso) que nos remete para a instalação em fases (durante vários anos) de áreas eleva­

das de pastagens, em alternativa à instalação total num só ano.

Zonas mal pastoreadas ou com muitos resíduos à superfície

As zonas com estas características poderão causar algumas dificuldades à instalação de pastagens através de sementeira directa, pois espécies com sementes de calibre muito mi­

údo e de porte prostrado a sub­prostrado po­

dem ter alguma dificuldade na emergência e nos estádios iniciais de desenvolvimento, pro­

porcionando assim uma deficiente instalação (Figura 8).

Nestas condições, é obrigatório o pastoreio para remoção da maior parte dos resíduos (Figura 9) de forma a evitar os problemas

referidos. A sementeira directa de pastagens em zonas de infestação generalizada com es­

pécies arbustivas é desaconselhável, e nesta situa ção a instalação da pastagem com recur­

so à mobilização do solo poderá proporcionar sem dúvida melhores condições de instalação (Figura 8). No entanto, esta situação corres­

ponde com frequência a solos muito degra­

dados com elevada susceptibilidade à erosão, pelo que especial atenção deve ser dada à protecção do solo à erosão, seja pelo tipo de mobilização a realizar, seja pela instalação

em faixas faseada no tempo, de forma que, em cada ano, não se exponham parcelas com elevado dimensão segundo o talude de maior declive, ao embate directo da chuva na super­

fície do solo desprotegido.

Renovação e melhoramento de pastagens

Como resultado da acção de vários factores, entre eles as condições climáticas, o maneio da pastagem ou a combinação entre eles, a composição florística da pastagem pode, nu­

ma determinada fase, ser desviada da sua composição inicial (gramíneas/leguminosas) e prejudicada eventualmente também porque houve interferência ainda com a persistência das espécies/variedades resultando para algu­

mas delas um tempo de permanência relativa­

mente curto na pastagem.

A alteração da composição florística (gramí­

neas/leguminosas) e a diminuição do grau de cobertura do solo como resultado destas e de outras acções, altera o potencial produtivo da pastagem (quantitativo e qualitativo).

Por outro lado, se ao longo do tempo, a melho­

ria das características físicas químicas e bioló­

gicas dos solos como resultado da instalação e manutenção de uma pastagem aumenta au­

mento o seu potencial produtivo, então pode justificar­se a introdução de outras espécies/

/variedades com maior produtividade.

A SEMENTEIRA DIRECTA permite a intro­

dução e reforço de espécies na pastagem vi­

sando o seu melhoramento, aproveitando o substrato existente (Figura 10).

Assim, só através da sementeira directa de espécies é possível o melhoramento da pasta­

gem sem necessidade de mobilização do solo, sem os riscos e custos inerentes à reinstalação e sobretudo sem que o ciclo de produção da pastagem seja quebrado o que como sabemos nos deixa mais cómodos face à sempre difícil estratégia de planeamento do maneio alimen­

tar dos efectivos.

Nestes casos (de introdução de espécies man­

tendo o coberto existente) é fundamental que a sementeira seja realizada antes da germina­

ção e emergência das espécies preexistentes, a fim de garantir capacidade de competição das espécies a introduzir. Para o efeito a semen­

teira deve realizar­se, ou antes das primeiras chuvas, ou logo após a sua ocorrência.

Assim, a sementeira directa parece­nos uma técnica possível de utilizar de uma forma sus­

tentada (agronómica; ambiental e economica­

mente) na instalação e certamente no melho­

ramento de pastagens.

Os autores escreveram este texto de acordo com a anterior grafia Figura 9 – Infestação com espécies arbustivas

Figura 11 – Pormenor da pastagem instalada com sementeira directa (Herdade da Lobeira)

Figura 8 – Excesso de resíduos a evitar na instalação de uma pastagem com sementeira directa

Figura 10 – Instalação em área bem pastoreada

Figura 12 – Aspecto geral da pastagem (Herdade da Lobeira)

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