AMPLIAÇÃO E MANUTENÇÃO DA BASE GENÉTICA DE COFFEA CANEPHORA
MAURI, A. L.; VERDIN FILHO, A. C. (Pesquisadores do INCAPER - aldomauri@incaper.es.gov.br); PARTELLI, F.L. (Prof. CEUNES- UFES).; ANDRADE, S.; (Bolsista/INCAPER) VOLPI, P. S.; DIAS, M. A.(Pesquisadores do INCAPER).; ALBANE, A.J. (Eng. Agrônomo- MAPA).A cafeicultura é um dos pilares do desenvolvimento econômico-social no estado do Espírito Santo. A cultura representa cerca 43% do valor bruto da produção agrícola sendo responsável pelo maior número de postos de trabalho com aproximadamente 400 mil trabalhadores envolvidos na cadeia produtiva, especialmente na época da colheita (Verdin 2011).
A propagação clonal de materiais geneticamente melhorados de café conilon foi uma das tecnologias que propiciou significativo incremento à produtividade da cafeicultura. A fixação de caracteres desejáveis, a precocidade produtiva, além da possibilidade de multiplicação independente da época do ano foram fundamentais para a consolidação da propagação vegetativa do Coffea canephora.
Entretanto, apesar dos grandes avanços obtidos a partir dessa tecnologia, a mesma causa uma grande preocupação, visto que a utilização de variedades clonais proporciona expressiva redução na diversidade genética do material cultivado. Aliado a isto, consta-se que a introdução de genótipos Coffea canephora no Brasil ocorreu em uma única oportunidade, sendo trazido de Guiné, Uganda e Angola, contribuindo ainda mais para o estreitamento da base genética (Eira et al., 2007). Na tentativa de reduzir este estreitamento, no mundo foram criados vários bancos de germoplasma, tanto “in vitro” como “ in vivo” para diversas espécies.
Existem no mundo muitos relatos de problemas ocasionados pelo estreitamento genético de espécies, destacando-se entre estes a “Fome da batata” ocorrida na Irlanda entre os anos de 1840 e 1850. No próprio café, o estreitamento da base genética também já causou grandes prejuízos à cultura. Por volta de 1870, a quase totalidade das lavouras de Coffea arabica do Ceilão, (ex colônia inglesa e atual Sri- Lanka) formadas por uma única variedade, foram totalmente devastadas pela ferrugem do café (Hemileia vastatrix). A partir de então, estas lavouras foram substituídas pelo chá e o café perdeu espaço.
Tratando-se especificamente de café conilon (Coffea canephora), a redução da base genética da espécie é ainda mais preocupante, porque além dos problemas fitossanitários, tem-se a questão da incompatibilidade gametofítica, comum desta espécie. Em 1985 o parque cafeeiro de conilon no Brasil era composto de aproximadamente 480 milhões de pés, sendo que destes 380 milhões estavam localizados no estado do Espírito Santo. É importante ressaltar que até este período o café conilon era comercialmente propagado exclusivamente por sementes, fazendo com que cada planta do parque cafeeiro anteriormente citado fosse geneticamente distinta. Naquela época, a ferrugem do café (Hemileia vastatrix), nematóides, dentre outros patógenos, apesar de presentes nas lavouras, dificilmente causavam danos econômicos a cultura, devido dentre outros fatores, principalmente a grande variabilidade de materiais existentes.
O plantio um número reduzido de clones, com caracteres de interesse econômico é hoje a maior ameaça para cafeicultura de conilon nacional. Lavouras compostas de 67, 75 e 80% de um único genótipo são usualmente plantadas. Inicialmente, em termos de produtividade, este inconveniente é minimizado pelo pequeno porte da lavoura e pela grande movimentação de pólen de lavouras circunvizinhas. Entretanto, o pleno desenvolvimento destas lavouras e a renovação das lavouras circunvizinhas por outras destes mesmos clones podem agravar a situação.
A contribuição da multiplicação clonal de plantas geneticamente melhoradas é, sem dúvida, uma tecnologia essencial ao sucesso do cultivo do conilon. O aumento da produtividade, o maior tamanho de grãos, a uniformidade de maturação e demais características agronômicas desejáveis obtidas por meio da seleção de materiais são conquistas sem precedentes. Do mesmo modo, mas paralelamente a busca por este conjunto de características fitotécnicas, a multiplicação clonal apresentou outra contribuição de fundamental importância para a cafeicultura de conilon. Ela mudou conceitos, quebrou paradigmas a partir do momento em que com a sua adoção, o produtor mudou por completo e positivamente todo o conjunto de práticas culturais da lavoura cafeeira. Desde um adequado preparo de área para o plantio, passando por melhorias referentes ao manejo das plantas, nutrição balanceada e culminando com o uso de sistemas de irrigação mais eficientes. A maioria das práticas anteriormente citadas já eram adotadas por alguns cafeicultores, entretanto, foi com o advento da muda clonal que a adoção destas práticas aconteceu de maneira expressiva. Isto se deveu principalmente ao fato dos cafeicultores acreditarem que as lavouras clonais eram extremamente sensíveis e se não fossem tratadas com muito cuidado e apresso poderiam perecer rapidamente trazendo grandes prejuízos.
Nos anos subsequentes a adoção da clonagem de plantas pôde-se constatar um grande incremento a produtividade na cafeicultura de conilon. Este ganho deveu-se em grande parte ao melhoramento genético em si, e outra grande parte a mudanças nas práticas culturais adotadas a partir da clonagem. Esta afirmativa pode ser claramente confirmada ao acompanharmos diversas lavouras clonais e também oriundas de propagação seminal com produtividades de 80-100 sacas/ha.
Neste contexto, o presente trabalho sugere o plantio de pelo menos um pequeno percentual de mudas oriundas sementes de sementes na formação de lavouras comerciais de café conilon, com o objetivo de se promover uma ampliação/manutenção da base genética da espécie, uma maior tolerância a estresses bióticos e abiótico, maior facilidade de polinização/fertilização, além de ampliar as possibilidades de surgimento de novos genótipos de interesse econômico.