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La mode racontée aux enfants: la littérature et les ateliers créatifs en tant qu´outils pédagogiques

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Academic year: 2021

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Texte intégral

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1 Communication n. 767-768 – Atelier: Textes, Langues et Savoirs

La mode racontée aux enfants: la littérature et les ateliers créatifs en tant qu´outils pédagogiques

FERREIRA AZZI Christine Docteur en Lettres Néo-latines (Université Fédérale de Rio de Janeiro) Institut Brésilien de Musées (IBRAM) – Ministère de la Culture du Brésil Résumé

Ce texte s´emploi à présenter deux expériences éducatives réalisées à la ville d´Ouro Preto (Brésil): les projets “Mode de lecture” et “Les robes de Frida”, qui avaient pour but de discuter la thématique de la mode et ses enjeux, à partir de la littérature d´enfance et de jeunesse et du texte littéraire comme espace de dialogue. Les activictés de lecture ont été suivies des ateliers créatifs pour un apprentissage ludique. Ces pratiques ont été réalisées avec la coopération du Musée de l´Inconfidence et du festival littéraire Fórum das Letras. Cette communication propose aussi la réflexion critique sur la littérature de jeunesse et la mode en tant qu´outils pédagogiques, à la lumière des idées de Merleau-Ponty et Walter Benjamin.

Mots-clés: mode; littérature; enfance; jeunesse; enjeux.

Fashion books for children: literature and creative workshops as educational tools This paper presents two educational experiences at Ouro Preto (Brazil): the projects "Fashion reading" and "The dresses of Frida", which aimed to discuss the theme of fashion and its issues from the children literature and considering the literary text as a space for dialogue. The reading activities were followed by creative workshops for playful learning. These practices were realized in cooperation with the Museum of Inconfidência and the literary festival Fórum das Letras.

This communication also provides critical reflection about children's literature and fashion as educational tools, in light of some theoreticians ideas, such as Maurice Merleau-Ponty and Walter Benjamin.

Keywords: fashion; literature; children; teenager; issues. 1. Introdução

O presente artigo tem como objetivo pôr em cena duas experiências educativas, a saber: os projetos “Moda de Leitura” (2012) e “Os vestidos de Frida” (2014), ambos realizadas na cidade de Ouro Preto, no estado de Minas Gerais, Brasil, em cooperação com outras instituições públicas, que tinham como objetivo utilizar a moda e o texto literário como espaço de diálogo com crianças e jovens. Dessa forma, os dois projetos apresentavam a mesma metodologia: de início, a leitura de livros infantojuvenis previamente selecionados que tinham a moda como temática; em seguida, a realização de ateliês criativos a partir das ideias apresentadas no livro trabalhado.

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2 2. A moda como ferramenta crítica nas atividades educativas

Qual o papel da moda na relação entre jovens, cultura e sociedade? Pode a moda se mostrar um espaço crítico para discussão de temas como arte e história, ou mesmo temas contemporâneos como a relação entre corpo, consumo e sociedade? A partir da moda, é possível a criança ou o jovem construírem um olhar crítico sobre o mundo que os rodeia? A partir de tais questões, verificou-se que a moda pode ser uma importante ferramenta educativa, mostrando-se ponto de partida para problematizar, junto a grupos de crianças e jovens, temas da contemporaneidade e presentes em suas rotinas. Nesse caso, ao considerar a moda como um assunto coloquial e familiar, as crianças seriam estimuladas a pensar em sua própria vivência com o corpo e a roupa, bem como sua interação com outros indivíduos – colegas de escola, pais, familiares, ídolos – através das narrativas apresentadas. A importância dos trabalhos manuais seria trabalhada nos ateliês criativos, atividade que apresenta relação direta com a questão do consumo versus sustentabilidade, consolidando o conteúdo trabalhado na narrativa e na discussão sobre o livro.

Para tanto, é preciso considerar a moda como “um reflexo da época”, conforme afirma James Laver em seu “A roupa e a moda” (1996), configurando-se um signo de cultura material e social na trajetória histórica da humanidade. Nesse sentido, mostra-se interessante fazer uso da roupa como uma forma de estudar a interação entre o indivíduo e o mundo que o cerca. A mídia e os meios de comunicação fazem da moda uma construção semântica e social que se tornou sinônimo de consumo. No entanto, a moda como dinâmica cultural vai além da relação entre produto e massificação, configurando a representação, sempre em construção, de processos sociais; e, por isso, é considerada uma representação material e imaterial do zeitgeist, isto é, do espírito de seu tempo. Para o filósofo Gilles Lipovetsky, o sistema da moda é capaz de produzir o melhor e o pior em uma sociedade, e cabe a nós a tarefa de pensá-la criticamente, problematizando-a (Lipovetsky, 1989:18).

Nos projetos educativos apresentados no presente artigo, a roupa e a moda são trabalhadas de maneira indireta, isto é, sem contato direto com o objeto. As peças presentes eram apenas as utilizadas pelos próprios participantes. É justamente tipo de abordagem, mais complexa, menos óbvia, que demanda mais criatividade por parte de educadores e professores. Trabalhar a moda com toda a sua pluralidade de linguagens e sentidos é sair da „educação bancária‟, expressão criada pelo educador brasileiro Paulo Freire que remete a um processo hierárquico de saber superficial, para uma educação que vá além do objeto cognoscível:

É exatamente neste sentido que ensinar não se esgota no tratamento do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. E essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educando criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. (Freire, 1970:60)

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3 O filósofo continua, afirmando que o corpo vê e é visto; através dele é possível realizar as ações de observar, tocar e sentir o outro, ao mesmo tempo em que se dá também ao olhar do outro. O corpo é visível e sensível em si mesmo, com diversos ângulos, com uma identidade, um passado e um futuro: “L´énigme tient en ceci que mon corps est à la fois voyant et visible. Lui qui regarde toutes choses, il peut aussi se regarder, et reconnaître dans ce qu´il voit alors l´autre côté de sa puissance voyante. Il se voit voyant, Il se touche touchant, Il est visible et sensible pour soi-même (Merleau-Ponty, 1964:18).

Dessa forma, pode-se afirmar que o corpo e, por extensão, a roupa encerram em si muito mais do que a superficialidade material. Como um palimpsesto, corpo e roupa carregam várias camadas simbólicas, sejam referentes à sua materialidade ou à sua imaterialidade. A roupa pode ser sentida, tocada, manipulada e comercializada. Pode também representar uma época, uma geração, um status, uma posição social, uma função política ou profissional.

A moda então, investigada como campo de reflexão e de ação junto a crianças e adolescentes, se apresenta como rico material de trabalho junto a essa faixa-etária, especialmente por tocar temas tão caros quanto delicados presentes no cotidiano. Quando a reflexão feita a partir da literatura é acompanhada de atividades manuais, como são as oficinas e os ateliês criativos, o pensamento crítico é estimulado de outra forma, através de outra vivência, que busca aproximar a criança da experiência da criação e da invenção, e sendo apenas receptora de bens culturais. Afinal, vivemos a moda em nosso cotidiano, e para problematizá-la é preciso trabalhar todos os seus aspectos: sua imaterialidade (leitura e debate) e sua materialidade (oficinas criativas). Conforme observa a pesquisadora argentina María Teresa Andruetto, em sua obra “Por uma literatura sem adjetivos”:

Nesse sentido, podemos dizer que a oficina – como espaço de pesquisa vivencial que rompe o desenho tradicional e permite explorar as possibilidades da própria palavra e acessar as possibilidades que os outros têm de resolver um mesmo desafio – é libertadora, e o é particularmente no âmbito da educação sistemática, que inclinou a balança para a transmissão de informação e está tão subordinada ao que deve ser (Andruetto, 2013:80). As experiências criativas e as atividades manuais buscam inverter a lógica social e sobretudo capitalista na qual se insere a dinâmica adultos e crianças, isto é, adultos como criadores de produtos que serão utilizados ou consumidos pelas crianças. Assim, ao se tornarem também criadores de novas formas, de novos objetos, eles passam de simples usuários a sujeitos. É nesse caminho que Barthes traz a reflexão em seu ensaio sobre brinquedos, a criança que não participa da criação de seus brinquedos e de seu lazer não inventa o mundo, apenas o utiliza, sem alegria: “Seulement, devant cet univers d´objets fidèles et compliqués, l´enfant ne peut se constituer qu´en propriétaire, en usager, jamais en créateur; il n´invente pas le monde, il l´utilise; on lui prepare des gestes sans aventure, sans étonnement et sans joie “ (Barthes, 1957:59).

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4 3. Literatura, educação e sociedade: novas formas de interação e cooperação

No Brasil, a literatura infantil brasileira surgiu apenas no século XX, embora no século XIX possam ser vistas publicações esporádicas destinadas à infância, sobretudo após a implantação da Imprensa Régia do Brasil, em 1808 e a proclamação da República em 1889. Tais marcos históricos conduziram a processos de modernização das cidades e de transição de uma sociedade escravocrata e latifundiária para uma população urbana, formada por membros da classe média e da alta burguesia (Lajolo e Zilberman, 2007:25). Porém, somente no século XX surge uma produção literária infantil sem cunho didático ou moral.

De lá para cá o mercado se expandiu e se consolidou, bem como o desenvolvimento do ensino público e privado no Brasil. No entanto, sendo uma nação marcada pela concentração de renda e por forte desigualdade social, há profundas lacunas no processo de escolarização da grande massa da população brasileira, sobretudos nos locais distantes dos centros urbanos. Além disso, as bibliotecas públicas existem em quantidade insuficiente e há distinção qualitativa entre o ensino privado, direcionado a crianças de classe média, e o ensino público, destinado a crianças oriundas, em sua maioria, de classes sociais menos favorecidas. Sendo assim, pode-se afirmar, por extensão, que há um grande hiato nos processos de formação de leitores entre as crianças estudantes de escolas públicas e as de escolas privadas.

No que se refere à literatura infantil como campo de estudo, o teórico britânico Peter Hunt, em sua obra Crítica, teoria e literatura infantil (2010) afirma que o gênero como objeto de análise surgiu a partir de 19901. Para as pesquisadoras argentinas Marcela Arpes e Nora Ricaud, em sua obra Literatura infantil argentina (2008), a partir dos anos de 1960 a criança passa a ser vista não mais como simples receptor, mas como sujeito fruidor. Assim, ao pensar a criança como um ser capaz de ter uma vivência estética, ela se tornou também alguém passível de consumir e de produzir bens culturais. Tem início então eventos, oficinas e atividades de arte especialmente direcionados ao público infantil, tanto em museus quanto em espaços destinados à fruição estética (Arpes e Ricaud, 2008:14).

Quanto às escolas, compreendidas aqui como instituições de ensino ancoradas em pedagogias tradicionais, usuárias do modelo padrão de professor/autoridade e aluno/receptor, encontram-se em profunda criencontram-se ideológica e funcional, como conencontram-seqüência de um processo de (re)construção de valores morais e éticos. Questionamentos nascem por parte de pais e educadores: qual a função da escola na atualidade? Qual o objetivo da educação? Como nossas crianças se sentem em relação à escola? Frente a tais questionamentos, o modelo escolar tradicional é posto em questão.

Observa-se então que tanto a instituição escola quanto a educação, de forma ampla, se encontram em momento de reconfiguração, amparada em uma reflexão crítica e questionadora sobre os valores transmitidos e sobre o processo de aquisição de saberes e conhecimentos. Cada vez mais, pais e educadores percebem que às crianças e aos jovens devem ser permitidas mais autonomia e mais criatividade nas ações da esfera escolar.

Outro fator a ser remarcado é a problemática do consumo na atualidade. Após a supremacia do que teóricos como Jean Baudrillard e Zygmunt Bauman chamam de sociedade de consumo, e da própria noção de individualismo, nas décadas de 1980 e 1990, a sociedade tem se voltado de forma crítica ao consumo exacerbado característico do sistema capitalista. Exemplo disso é o ressurgimento de novas práticas de produção, de consumo e de cooperação

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5 social, destinadas a atenuar os impactos ambientais conseqüentes do hiperconsumismo em desalinho com correntes de pensamento que buscam estilos de vida mais saudáveis. Tais práticas são o “faça você mesmo”, que, oriunda do movimento punk, virou conteúdo fácil de sites, blogs, revistas e jornais; o financiamento colaborativo (crowdfunding); a troca de bens organizada por grupos; e diversas formas de trabalho (coworking) e ações colaborativas, através da organização de coletivos de arte, política, educação. Novos espaços educacionais têm sido criados, balizados ou não pelo Estado, pondo em cena experiências educativas e de gestão escolar ancoradas nos princípios de cooperação e colaboração2. Trata-se, portanto, de novas maneiras de lidar não apenas com o consumo, com ideias e serviços; mas também de novas formas de lidar com o(s) outro(s) e o meio ambiente.

A redefinição de papéis no contexto da experiência estética conduz a reflexões e à reconfiguração das ações destinadas a intermediar o diálogo instituições educativas e culturais e público infantil. É preciso reinventar a experiência educativa, para que, em vez de respostas, a atividade apresente questões. Para tanto, as atividades educativas devem fomentar o pensamento crítico e a criatividade como expressão de individualidade. Assim, como afirma Paulo Freire, renomado educador brasileiro idealizador da pedagogia da autonomia:

É exatamente neste sentido que ensinar não se esgota no tratamento do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. E essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educando criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. (FREIRE, 1970:60)

Em tempos de hiperconsumismo, publicidade infantil e brinquedos prontos, qual o papel do brincar no processo educativo? Qual a importância de aproximar a criança do processo de faz de conta e de criação dos próprios brinquedos? Os mais velhos costumavam criar seus brinquedos a partir de elementos naturais, como terra, barro, retalhos. Como brincam as crianças de hoje em dia?

A partir de tais questões, o desafio consiste em realizar novas práticas educacionais levando em conta a criança como interlocutora nesse diálogo; e, no que se refere a esse trabalho, apresentando a literatura infantojuvenil e a moda como ferramentas de construção de um saber partilhado e coletivo.

4. Os projetos “Moda de Leitura” (2012) e “Os vestidos de Frida”

Os projetos “Moda de leitura” (2012) e “Os vestidos de Frida” (2014) são ações que foram realizadas por mim, em cooperação com instituições públicas, a saber: Museu da Inconfidência (“Modas de Leitura”) e Fórum das Letras/Universidade Federal de Ouro Preto (“Os vestidos de Frida”).

No primeiro caso, o Museu da Inconfidência foi mais que um parceiro; foi também cedente do espaço utilizado e financiador do material de consumo utilizado no projeto. O Projeto “Moda de leitura” tinha por objetivo discutir temas relacionados à moda, tais como história da moda, estilo, consumo, sustentabilidade, diversidade, aparência, padrão de beleza, através da contação de histórias de livros de moda para crianças e de atividades lúdicas. Com isso, além

2 Sobre o tema, o livro-reportagem “Volta ao mundo em 13 escolas”, criado a partir de crowdfunding, mostra-se

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6 de promover o hábito e o interesse da leitura no público infantil a partir da discussão de temas contemporâneos, buscava construir indivíduos críticos e conscientes, e não apenas consumidores.

Foram realizados nove encontros semanais no Museu da Inconfidência a partir de outubro de 2012, com o mesmo grupo de crianças, composto por crianças de 9 e 10 anos de idade. As inscrições para o projeto foram feitas de forma livre, tornando o grupo diversificado. Assim, eram dez meninas e um menino, sendo nove crianças de escolas particulares e duas de escolas públicas.

O objetivo do projeto era pôr em cena o que Walter Benjamin descreve em seu ensaio sobre a relação entre crianças e leitura:

Não são as coisas que saltam das páginas em direção à criança que as contempla – a própria criança penetra-as no momento da contemplação, como nuvem que se sacia com o esplendor colorido desse mundo pictórico. Frente ao seu livro ilustrado a criança coloca em prática a arte dos taoístas consumados: vence a parede ilusória da superfície e, esgueirando-se entre tapetes e bastidores coloridos, penetra em um palco onde o conto de fadas vive (Benjamin, 1984:55).

O fragmento do texto de Benjamin mostra-se interessante não apenas por compor uma cena dialética entre o livro/leitura/leitor, com a criança imersa no processo de fantasia e de imaginação proporcionada pela leitura; mas também porque, indiretamente, apresenta a criança como sujeito fruidor de uma obra literária, obra esta feita especialmente ela.

Nesse sentido, a proposta do projeto “Moda de Leitura” era pôr em cena a criança como protagonista da própria reflexão em torno do tema moda. O livro lido, em conjunto, a cada encontro, era o objeto que servia como ponto de partida para a discussão e o debate. Em vez de trazer respostas, a atividade punha em cena questões, problematizando assuntos como bullying, consumo, padrão de beleza, da diversidade e história da moda.

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7 Em sua reflexão sobre a importância dos brinquedos e do brincar, Benjamin relembra que, historicamente, os brinquedos advinham sempre da manufatura doméstica, levando a uma simplicidade em sua fabricação que estimulava a imaginação e a criatividade das crianças:

Originariamente os brinquedos de todos os povos descendem da indústria doméstica. A primitiva riqueza de formas do povo baixo, dos camponeses e artesãos, estabelece até os dias de hoje uma base segura para o desenvolvimento do brinquedo infantil. (...) É natural que ela [a criança] compreenda muito melhor um objeto produzido por técnicas primitivas do que um outro que se origina de um método industrial complicado. (Benjamin, 1984:93).

E, ainda, pode-se afirmar que, ao trabalharem em grupo, a noção de cooperação esteve presente, estimulando a troca de ideias e de impressões no grupo. Dessa forma, seja de forma ampla (na realização das experiências educativas), seja de forma pontual (na concepção das atividades), a ideia de coletividade, de partilha e de trabalho conjunto permearam as ações. A seguir, serão apresentadas as duas experiências educativas de forma mais detalhada. 4.1. Projeto Moda de Leitura – Museu da Inconfidência

O projeto foi realizado no espaço do Setor Educativo do Museu da Inconfidência e contou com um grupo formado por onze crianças entre nove e dez anos, sendo dez meninas e um menino. Importante observar que o grupo se manteve o mesmo até o final do projeto. As atividades do projeto foram organizadas da seguinte forma:

1) Livro: Nique toda chique de Jane O´Connor.

No primeiro encontro, foi feita uma roda, todos sentados ao chão. Durante a leitura realizada por mim, os participantes se mostraram muito interessados no livro e nas ilustrações, identificando-se com a personagem e rindo de suas expressões. Depois, passamos a debater sobre o significado do termo „chique‟. Discutimos também a importância de se preocupar com o meio ambiente hoje em dia, que ser sustentável também é chique. Expliquei o que são tendências, falei da importância de ser, e não apenas de ter. Foi abordada a questão do reaproveitamento de materiais, sobretudo em nossa prática cotidiana, e dei o exemplo do material que seria utilizado em nosso projeto. Como atividade criativa, as crianças customizaram com canetas, tintas e retalhos de tecidos uma bolsa feita de sobras de algodão e de tecidos de fábrica.

Para o próximo encontro, solicitei que cada um trouxesse uma peça de roupa, a fim de descrever e contar a história da roupa.

2) Livro: Vestidos para lembrar e uma história para contar, de Laís Fontenelle.

O tema proposto era pensar a roupa como objeto de memória. Além disso, com o grupo mais entrosado, passei da leitura individual (minha) para a leitura partilhada, na qual cada um lia um trecho e passava para a criança seguinte. A dinâmica da roda foi mantida.

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8 Como atividade criativa, o grupo desenhou um croqui de moda, reproduzindo a peça de cada um.

3) Livro: Frida Kahlo, de Carmen Leñero.

O livro narra a biografia da pintora Frida Kahlo, direcionada ao público infantil. O tema a ser trabalhado era a vida e a arte de Frida.

Após a leitura, as participantes quiseram saber mais sobre os problemas de saúde de Frida, e como isso afetou sua vida pessoal. Mostrei o livro da Editora Taschen com imagens de suas telas. As crianças se impressionaram com as imagens impactantes dos autorretratos de Frida, dividindo-se em suas opiniões, mas de qualquer forma achando sua obra marcante. Suas telas as impressionaram pela violência de algumas imagens.

Nesse encontro, houve apresentação de um teatro de miniaturas feito especialmente para o projeto; como atividade manual, foi realizada a criação da bonequinha Frida, feita com biscuit.

4) Livro: Vestida para espantar gente na rua, de Miki W.

Em nosso quarto encontro, o tema trabalhado foi moda e diversidade. O livro autobiográfico põe em cena, de forma bem humorada e através de coloridas ilustrações, a história da autora que, adolescente, apresenta um estilo considerado excêntrico. A conversa após a leitura teve como foco a relação entre aparência, padrão de beleza e sociedade. Foi também abordada a questão do estilo pessoal. Foi apresentado o questionamento: como nossa aparência afeta o mundo que nos rodeia e como é influenciada por ele?

A atividade criativa do encontro foi a continuidade da última, a fim de terminar a confecção da bonequinha Frida.

5) Livro: A menina que conversava com as roupas, de Paula Acioli.

Neste livro, a roupa é narrada como um objeto de afeto, que conecta gerações (mãe e filha, a se tratar do texto) e que é escolhida de forma emocional. A pergunta lançada foi: que sentimento nos leva a escolher determinada roupa ou certo modo de se vestir?

Como atividade lúdica, as crianças responderam a um quis sobre estilo pessoal; a atividade criativa consistiu na criação de um caderno de inspiração, com imagens selecionadas de forma pessoal e intuitiva que despertassem nela sentimentos positivos. Após a seleção de imagens, cada criança explicou, em um texto breve, as razões que a levaram a escolher seu repertório visual.

6 e 7) Livros: Diferente como Chane,l de Elizabeth Matthews + Moda, uma história para crianças, de Kátia Canton.

Neste encontro foram trabalhados dois livros: uma narrativa biográfica sobre a estilista Coco Chanel e a moda dos anos 20; e um livro ilustrado sobre história da moda. Dividi a turma em dois grupos; cada conjunto ficou com a leitura de um dos livros e, posteriormente, teve que contar ao outro grupo a história lida. Houve debate sobre a vida de Chanel e os aspectos históricos da moda, com destaque para a peça que despertou maior curiosidade: o espartilho. Além disso, foi discutida também a vontade de Chanel de ser diferente e brigar pela igualdade de tratamento entre ricos e pobres, bem como a relação entre moda e arte.

A atividade criativa do encontro se baseou na moda dos anos 1920. Dessa forma, as crianças foram estimuladas a compor um painel de inspiração com imagens que remetessem a essa época e a desenhar um croqui com referências estéticas da estilista francesa.

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9 A partir do tema presente no livro, sobre padrão de beleza, aparência e bullying, houve leitura compartilhada do livro para o grupo.

Os participantes se interessaram pelo livro, mesmo a leitura tendo ficado um pouco falha por conta da leitura fragmentada em grupo. Todos pareceram ansiosos para que chegasse sua vez de ler, mesmo as crianças mais tímidas. A leitura era interrompida pois, por se identificarem com a história, um ou outro participante queria fazer algum relato similar de preconceito sofrido ou de algum apelido que a incomodava, ou de algum caso conhecido com alguém próximo. Fui questionada sobre se eu tinha cabelo branco; respondi que tinha e não me incomodava, apesar de o padrão de beleza nos conduzir sempre a esconder nossos fios brancos. Debatemos sobre a necessidade de esconder nossos defeitos. Por conta da atividade, o debate não pôde ser estendido.

A atividade manual realizada foi um trabalho de criação de uma caixa de papelão e encadernação em tecido.

9) Keka tá na moda, de Helen Pomposelli.

Para finalizar o projeto, foi escolhido um livro que traçava o panorama histórico da moda, através de recursos ficcionais e fantasiosos: a jovem protagonista viaja pelo tempo e passeia por diferentes épocas marcantes da história da moda.

Nesse sentido, optou-se por, neste último encontro, utilizar o livro como síntese dos assuntos abordados. Para a atividade criativa, a turma foi divida em quatro grupos para, em conjunto, elaborarem uma minicoleção, composta por quatro peças. Por fim, como se aproximava da época do Natal, as crianças sugeriram celebrar um amigo-oculto entre o grupo, no qual os presentes a serem dados seriam confeccionados artesanalmente. Assim, a ideia do fazer manual e da atitude anticonsumista se mostrou presente de forma prática e espontânea a partir dos próprios participantes.

4.2. Os vestidos de Frida – Fórum das Letras

A oficina, aberta ao público, contou com seis participantes de nove e dez anos de idade, além de quatro participantes jovens. A atividade foi realizada em um vagão de trem desativado da Estação de Trem Ouro Preto, o que por si só põe em cena uma reconfiguração do espaço local e procura criar um diálogo com a comunidade.

Como abertura, houve a leitura partilhada do livro “Os vestidos de Frida”, de minha autoria, publicado através de crowdfunding em 2014. O livro põe em cena a trajetória da artista mexicana Frida Kahlo e sua especial relação com as roupas. A partir dos episódios relatados no livro e na forma como Frida fazia uso de seu vestir como expressão política, estética e ideológica, abordei com o grupo o tema da roupa como expressão pessoal: a roupa fala? O que nossas roupas dizem sobre nós? Cada participante procurou descrever o seu jeito de vestir e sua relação com as roupas. Falei da relação entre moda e linguagem, ilustrando com exemplos dos trajes utilizados pelas próprias participantes. Foi abordada também a questão do uso de uniformes nas instituições escolares. As crianças interrogaram o significado e a função do uso dos uniformes e, ao longo da conversa, observaram que, conforme o termo indica, o uniforme tem a função des-individualizar, de padronizar e tornar todos iguais.

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10 A segunda etapa consistiu na criação de um objeto de brincar: uma boneca de feltro, com roupas e acessórios de feltro, dispostos em um quadro de feltro individual. Importante ressaltar que para nenhuma das atividades foi utilizado molde ou padrão, fazendo com que as crianças e jovens participassem de todas as etapas do processo de criação, e o resultado dos trabalhos se mostrasse um exemplar de expressão criativa e individual.

3. Conclusão

A moda, como tema presente no cotidiano da sociedade, mostra-se então um amplo campo de investigação junto ao público infantil e jovem, justamente por reunir, em essência, a materialidade da roupa e a imaterialidade da representação social como signo visual, ideia que remete à reflexão de Walter Benjamin sobre a autenticidade de um objeto: “A autenticidade de uma coisa é a quintessência de tudo o que foi transmitido pela tradição, a partir de sua origem, desde sua duração material até o seu testemunho histórico” (Benjamin, 2011:168). Ao considerar o texto literário como espaço de diálogo, de troca, respeitando a inteligência e a sensibilidade da criança e do jovem, o mediador tem ali a possibilidade de criar um canal para troca de saberes. A vivência da criança, seu cotidiano escolar e familiar se transformam em ricos contextos que servem como a base para a argumentação e o debate de valores e de histórias. Nesse sentido, moda e literatura são pretextos, caminhos para a construção de uma partilha, de uma relação dialética que aproxima diferentes gerações. Daí a importância da noção de mediador, e não de um professor transmissor, na medida em que, nas palavras de Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (Freire, 2002:12).

Referências bibliográficas

ANDRUETTO, María Teresa. Por uma literatura sem adjetivos. São Paulo: Editora Pulo do Gato, 2012.

ARPES, Nora; RICAUD, Nora. Literatura infantil argentina: infância, política y mercado en la constitución de um género masivo. Buenos Aires: Editorial Stella/Ediciones la Crujía, 2008.

BARTHES, Roland. Jouets In Mythologies. Paris: Éditions du Seuil, 1968.

BAUDELAIRE, Charles. O pintor da vida moderna, In Obras estéticas: Filosofia da imaginação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.

BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: Magia e técnica, arte e política. Editora Brasiliense, São Paulo: 2011.

___________ Reflexões sobre a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus Editorial, 1984.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002. ____________ Pedagogia do oprimido. São Paulo: Editora Paz e Terra: 1970. HUNT, Peter. Crítica, teoria e literatura infantil. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira. São Paulo: Editora Ática, 2007.

LAVER, James. A roupa e a moda. Companhia das Letras, São Paulo:1996.

LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. Companhia das Letras, São Paulo: 1989.

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11 Referências bibliográficas dos livros infanto-juvenis citados:

ACIOLI, Paula. A menina que conversava com as roupas. Rio de Janeiro: Memória Visual, 2012.

CANTON, Kátia. Moda: uma história para crianças. São Paulo: Cosac Naify, 2005. FERREIRA AZZI, Christine. Os vestidos de Frida. Juiz de Fora, 2014.

LEÑERO, Carmen. Frida Kahlo. São Paulo: Editora Callis, 2003.

MATTHEWS, Elizabeth. Diferente como Chanel. São Paulo: Cosac Naify, 2009. MOORE, Julianne. Morango Sardento. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

O´CONNOR, Jane. Nique toda chique. São Paulo: Editora Rocco, 2008.

PEREIRA, Laís Fontenelle. Vestidos para lembrar e uma história para contar. São Paulo: Editora das Letras e Cores, 2011.

POMPOSELLI, Helen. Keka tá na moda. São Paulo: Rocco, 2007.

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