CHAMADA PARA ARTIGO
Cultures-Kairós
– Revue d’anthropologie des pratiques corporelles et des arts vivants
Metamorfoses digitais
experimentações estéticas e construção do sensível na interação humano-‐computador Digital metamorphosis aesthetical experiments and constructions of the sensible in the human-‐computor interactions
Aquilo que poderíamos chamar, seguindo a sugestão de Miller e Horst (2012), de uma Antropologia do Digital, abarca uma miríade de realidades empíricas muito diversas.
Algumas questões parecem ser de fundo comum, mas cada um desses campos articula-‐as diferentemente: as tensões entre on e offline, as formas de participação, o lugar ocupado pela imagem, os diferentes graus de imersão e envolvimento demandados do usuário, os tipos de laços estabelecidos, entre outros. Esse número temático de Cultures-‐Kairós é dedicado a uma Antropologia do Digital na qual a centralidade do humano se encontra desestabilizada, priorizando uma reflexão sobre os híbridos contemporâneos humano-‐
máquina-‐informação.
Embora tratemos aqui de hibridizações homem máquina, estas não dizem tanto respeito às clássicas imagens do ciborgue como corpo-‐carne incrustado de implantes metálicos, e sim a uma mente não confinada, estendida (Clark, 1997) ao mundo e às máquinas. Os aparelhos de realidade virtual “clássicos”, como os que povoam nosso cinema de ficção científica, recorrem a um bloqueio do mundo físico externo, conseguido através do contato direto entre corpo/carne, visores e luvas especiais, além de controles de movimento que literalmente enclausuram o usuário na experiência virtual a ser vivenciada, promovendo assim a imersão. De certo modo, simula-‐se o deixar de existir em um ambiente, o físico, para poder ingressar no outro.
No caso dos mundos virtuais e jogos digitais, no entanto, esses dispositivos não são utilizados, faz-‐se uso apenas de computadores convencionais, domésticos, seus monitores e periféricos. Mais do que um deslocamento do corpo físico para o corpo digital, nos mundos virtuais e jogos digitais parece ser possível estar nos dois lugares ao mesmo tempo, embora em corpos distintos, isto é, sob a forma humana e sob a forma de um avatar.
Maison des Sciences de l’Homme Paris Nord
4, rue de la Croix Faron, 93210 Saint-‐Denis La Plaine l Tél. : 33 (0)1 55 93 93 00 l Fax : 33 (0)1 55 93 93 01 l http://www.mshparisnord.fr l USR 3258
Assim, o devir ciborgue que tem lugar nessas interfaces gráficas 3D poderá parecer mais suave, mas talvez seja apenas mais dissimulada. Em nossa relação cotidiana com a tecnologia, o incremento técnico da máquina nos afasta da própria máquina, já que vem acompanhado do desenvolvimento de interfaces cada vez mais "amigáveis" ou 'humanizadas". De acordo com Taussig (1993), há algo de inseparável nos poderes de simular mundos mimeticamente e ao mesmo tempo ocultá-‐los e mascará-‐los. Esquecidos de cabos e circuitos eletrônicos, os sujeitos e seus avatares produzem novos níveis de realidade (Calvino, 2007) intercalando simulação informacional e dissimulação provisória de sua estrutura material.
Se falamos aqui em dissimulação provisória ou temporária é porque ela é bastante frágil, podendo a ser quebrada a cada minuto caso a conexão com a Internet falhe ou o telefone, no mundo físico, toque. A própria noção de interatividade, na qual está fundada a lógica da web, é ao mesmo tempo produtora e constante ameaça no jogo simulação/dissimulação.
Como propõe Manovich (2011), interagir com a interface significa ver a mensagem se construindo em tempo real, não apenas recebê-‐la pronta, como se não necessitasse da presença de camadas de hardware e software para existir.
As metamorfoses digitais que temos em mente são sobretudo aquelas que se concretizam nos mundos virtuais e jogos digitais, ambientes caracterizados por uma construção técnica e estética baseada em gráficos 3D e pela experiência da imersão, e percebidos enquanto horizontes imaginativos (Crapanzano, 2003) agenciadores de formas específicas de socialidade, corporalidade, aprendizagens e construções de si. Reflexões que tomem como objeto outras plataformas serão bem vindas desde que versem sobre experimentações identitárias e processos de (in)dividuação característicos dos diferentes modos de realizar-‐se no metaverso.
As propostas baseadas em pesquisas etnográficas serão privilegiadas, assim como abordagens transdisciplinares e que proponham um diálogo entre antropologia e artes.
Organização: Débora Krischke Leitão PPGCS/Universidade Federal de Santa Maria Núcleo de Estudos sobre Emoções e Realidades Digitais (NEERDS/UFSM)
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4, rue de la Croix Faron, 93210 Saint-‐Denis La Plaine l Tél. : 33 (0)1 55 93 93 00 l Fax : 33 (0)1 55 93 93 01 l http://www.mshparisnord.fr l USR 3258
Bibliografia:
CALVINO, Italo, “Levels of Reality in Literature”, in Calvino, Italo, The Literature Machine:
essays. London: Picador, 1989, pp. 101-‐121.
CLARK, Andy, Being There: Putting Brain, Body and World Together, Cambridge: MIT Press, 1997.
CRAPANZANO, Vincent, Imaginative Horizons: An Essay in Literary-‐Philosophical Anthropology, Chicago: University of Chicago Press, 2003.
MANOVICH, Lev, The Language of New Media, Cambridge: MIT Press, 2001.
MILLER, Daniel; HORST, Heather, “The Digital and the Human: A Prospectus for Digital Anthropology”, in MILLER, Daniel; HORST, Heather (Org.), Digital Anthropology, Londres:
Berg, 2012. pp. 3-‐35.
TAUSSIG, Michael, Mimesis and alterity: a particular history of senses, New York: Routledge, 1993.
Envio das contribuições: antes do 06.09.2013
aos dois seguintes endereços:
laure.garrabe@mshparisnord.fr & veronique.muscianisi@mshparisnord.fr
Os textos que não contemplaram as normas tipográficas estarão sistematicamente recusados.
As normas completas encontram-‐se no link abaixo:
http://revues.mshparisnord.org/cultureskairos/index.php?identifier=consignesauxauteurs
As propostas (40-‐50 000 caracteres) devem constar:
-‐ 5 palavras-‐chaves, em português e inglês
-‐ um resumo em português e um resumo em inglês
-‐ e, em arquivo separado, uma breve nota biográfica do autor (Nome completo, titulação, vinculo institucional, breve apresentação dos interesses de pesquisa).
Cultures-‐Kairós recebe também em fluxo continuo:
-‐ contribuições livres publicadas na rubrica “Varia”, na medida em que contemplam sua linha editorial
-‐ resenhas criticas publicadas na rubrica “Recensions”, na medida em que contemplam sua linha editorial