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Uma abordagem dos sentidos espirituais em Santo António

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Academic year: 2022

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UMA ABORDAGEM DOS SENTIDOS ESPIRITUAl EM SANTO ANTÓNIO

Teresa Santos(·I) Helena osta(·~)

Resumo: Refere-se que a pastoral antoniana, decorrente da caridade, se articula '()Iil ()

exercício de apuramento dos sentidos espirituais e correlativamente com oexercí 'iodI' desapego dos sentidos físicos. Todavia omovimento ascético implícito na purificação dON

sentidos espirituais não seabstrai da presença exigente da comunidade nem secondcnsu (1111

normas éticas impositivas, mas transfere-se para avivência vitalizadora dapastoral 'I'iHI , Palavras-chave: pastoral antoniana, sentidos espirituais; caridade; encarnação.

1. A funcionalidade dos sentidos

Uma das finalidades dos sermões antonianos, tomados como peças de r -t ).

rica espiritual, consiste em apresentar normas para uma conduta moral, tend ('111

vista a necessidade de orientar oser humano na passagem por este mundo em di.

recção ao reino dos céus, Adecisão de aderir a uma conduta moral e apersistên '111

de nela se manter é de ordem individual, assim como aexperimentação de cada momento ascético é singular e pessoal. Este acento na subjectividade não rem ,to para uma antropologia egótica nem pressupõe uma separação entre o Criador \II

sua criatura, mundividência que deixaria a criatura entregue a si mesma sem () conforto interior do amparo crístico. Ao contrário, Santo António reforça a efe 'Li·

vidade da condição filial pressuposta na omnipresença divina. Osermão da «Inv 11·

ção da Santa Cruz» ébem ilustrativo dovínculo presencial:

«Nesta terra estão postos os olhos do Senhor, os olhares dagraça divina, desde oprincípio da conversão atéaofim da última incineração "(1).

(*1)Universidade de Évora/CIDEHUS (*2)Mestranda na Universidade do Porto

(1)S.H, 890: "i«hac terra sunt oculi Domini, idest respectus divinae gratiae, a principio conversionis 'lI~(I'11'

ad finem ultimae incinerationis ".

Ano XXII (2009) N.°43 EBORENSIA 121 - 1.311

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d iorosonca divinu \do ztllo 1)(\11111111 111\ I repor '1!HIUIlI o

A rt za a ornrupi S n ~ do-s ld ito uII' ISI11'li do nmor m d'lrf.

ambiente favorável à asc se, tornan -s VI I, AI rito-s ela rt za do

' d 'I amento seja do castí ro. um -s 11

mento do temor, seja o ju g d ~ 'TI I ssãrío àprogr ssão

m suas criaturas ecorra oann

cuidado de Deus para co d d t moral Todavía a ascética anto.

1: ~ d itação das normas e con u a , c

e à satisfação a acei , I ' o tamental pró-activo e t'ecom-

fi adro do pSICOogismo comp r

niana não se xa no qu , , '1: ~, dem sugerir à luz duma leitu 1'1L

' , t mos 'ânimo e satistação po

pensatono, como os er d d ta ral corresponde à disponibtll- tação de normas e con u mo

actual, nem a apresen , , d o de uma lógica calculista ( d ,~ d desempenho ascetico, no qua r

zação e um guiao e A' , t tação imediata da progressão

pontual. Efectivamente a anuencia a uma IIIerp~e, 1"

h 'ora o regime díferencial imp ICItO,

espiritual do ser umano 19n ima cit d quando recorre ao veterotesta- Éna continuação da passagem acima CI a a, , dif _ nciaI da ascéti 'lt

' '1' d

J

b (XXV 6) que se evidencia esse regime Iele

mentano rvro e o "

antoniana:

"Nestecéuestá ofilho do homem, verme, hu~ilde, "". se~;~h~

rme efilho de verme, Dele escreve[ob: Ohomem epodridao e , vedo homem um verme, qu,er dizer. podridão de podridão,deOAhumilde,

ide dridão ( ) Tal indivíduo vive em pureza antmo no cons ra-sepo , '" , ~ d " sobeao céu com sobredito céu, descedo céu porcompaixao oproxuno, h aelevação do espírito, E ninguém mais o pode fazer, porque nehnu~l

b b d' sua graça aos umt- b b li obe Deusresisteaosso er ose a a

so er o ats ,

deS"(2),

, "podridão' com 'céu' O

im acto a conjugação dos termos verme e

Causa I p , 'do ceú Literalmente, esta passagem do sermao movimento de subida e descida 'I" matéria ('verme') eespírito (viv«

d hd d d t tura antropo oglCa-

recorda a ua I a e aes ru . b ' I . ição do ser humano ao efeito

' ') ainda adverte para a lllSU traive sujei di ~

no ceu - e, , . con çoes

1e à inculcada natureza pecarmnosa,

desgastante do curso tempora " "d idão' reforçam um dos pilare ,

" dri dão" Porem verme e po n pressas no termo po n .

. - - marão ar referência a seguinte edição: SantoAntónio di' Note-se quetodas ascitações dossermoes to p... D t' 2Vols ed. bilingue _Latün 1I

I Srmões Domtntcms e restoas,., ,

I.ishoa,Doutor Evangélico, Obras Comp etas. e. R a Porto Lello eIrmão editores, 1987.

°

algartsmn

Português, Introdução eTradução de~e~nque Pinto em, ,

nununoindica o volume eoárabe, apagina, ... ermis idest humilis, qui severmem etfilium vel'III/~

(,») S II 890-891: "ln.hoc caelo estfiltus h01ntntS,ulest v. ' . id t putretlo de putredine. HU111'i/1sNI'

- '. , d tfi' hominís vermis t es

I"'/III/al, de quo 10bxxv Homo. putr~ o e 11.US elo animi U1itate,descendit de caelo proximi C01Jl/i//N

//lIIJ'f'llinem existimat. (...)Iste talis estmsupradicto c~. s quia !:uUus superbus. Superbis enim Deus restsut,

. .ascendit incaelum mentis eleoatume, etnemo atu ,

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//I/I/I/IIIJ/I.\' autem. datgratuun. Amen .

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I I.~' .~(.I " Iusum 'l1l'àhui íldad ,Nad'l mais d svaloríza I) 1\1)

ti ' ndí oras: jUlIlt lo lnv rt brado nada mais repugnant qu aquilo qu S I

n entra m stad cI utr facção, já fétido edeformado. O outro pilar a orn] [ti-

xão vivíficant d vinculação comunitária do ser humano expressa nomovím nto d(

d scida do céu, referência à força vinculativa do ser humano à comunidad , alva- uardando-se assim a referência aos valores cristãos da personalidade e da n iar- nação. Por conseguinte, a ascética não éum processo de escalada linear ecal ulada por graus, para exercitação da expansão da dimensão interior. Tão-pouco éuma ir- reversível entrega contemplativa que despreza a vida da traternidade comunitária.

Em oposição, a ascética indica um regime diferencial de vivência humana, senti n- te do mistérío'" e difusiva do amor caritativo. Em vez de um caminhar metodol gi- o que passo a passo leva ao distanciamento dos demais, a ascese efectiva-se na vi- vêncía da humildade e compaixão caritativa, ou seja, no momento da extinção ela volição egótica. Neste sentido, a ascese configura-se como propulsão imediata

nergizada pelo amor.

Em Santo António a maximização do descentramento de si mesmo expressa- -se no amor devido à criatura humana, às demais criaturas eànatureza em geraI. 6 Seama Deus quando se ama simultânea e indiferenciadamente toda a sua obra, posto que aobra da criação representa econcretiza o acto do amor de Deus'". Con- siderar o maravilhamento estético da obra remete, por associação, para seu criador;

tal como esclarece o santo português:

'1\obra do Senhoréa suacriação,que,bemconsiderada, leva o queexaminaàconsideração do seu Criador.Setanta beleza há na cria- tura, quanta existe no Criador? A sabedoria do artista resplende na matéria"(;)).

A consideração não desencadeia uma mera operação noética, de tipo espe- culativo, reveladora quer da sabedoria do criador quer dos modelos eidétícos das ooísas belas. Na linha da tradição franciscana, despida de sentido possessivo, a I'Onsideração Suporta-se numa vital, genuína egostosa truição estética que desper-

(:1) 'fi.hermenêutica antoniana autodelimita-se aotocar o Mistério quejá nãopode captar, oindivisível que

"penas seaproxima delonge, nahumilde ehumana tentativa de osimbolizar". PACHECO, Maria Cândida.

,~lIlltoAntõnio deLisboa, AÁguia eaTreva, Porto,Imprensa Nacional c. Casa daMoeda, 1986,p.60.

(,I)Sobre o amor ànatureza ea todas ascriaturas consultar M.C.Pacheco, Da Ciência da Escritura aoLivro

ti"Natureza, SantoAntónio deLisboa: daciência da escritura aolivro da natureza, Lisboa, Imprensa Nacional

Cusada Moeda, 1997,pp.218_ 221,

m)S. lI,445- 446:"OpusD01nini,creatio, quae,beneconsiderata, suum inspectorem transmittit adsuiCreatort»

nmsiderationem, Sitanta pulchritudo increaturn,quanto est inCreatore? Opificissapientia resplenda in materla",

(3)

1'1 1/11I11 11/1111t111 1'/11 ""~ ,Y//ll/tll/,V I'~I/lllIlIrlfy 11/1 I11/1111 \/111111111

la para a siml elogia amorosa da 'riu {lO 'Iam ()si "li ('lido /111(10dus .rluturus.

!\ obra da criação não éprioritariam ntc um livro uh'I'lo l ru.louultza '~lOdo 10- der e transcendêncía do Críador'" mas a superior manifesta 'ão lo amor cria ío- nista, pelo que a'consideração' referida no sermão antoniano corr sponde àm di- taçãoexperiencial da relação amorosa com cada criatura, através da qual resplan- dece difusivamente a sabedoria amorosa do Criador. No esquema metafísico da semelhança'", para considerar econtemplar o que nessas coisas está oculto, basta permanecer no mundo das coisas criadas, num regime de amorosidade fraternal inconfundível com adesões panteístas.

A biografia mística de Santo António exemplifica bem a fraternidade francis- canaeas possibilidades experienciais dos sentidos físicos,nãotanto na função activa de estímuladores'" mas na passividade receptiva depercepções do mundo espiritual, plasmadas em vozes e imagens. A fulcralidade destamística está na percepção super- -sensorial, ou alterada, propiciadora deaventuras espirituais intensas eespontâneas que materializam infantilmente o divino,talcomoveicula a crença do santo tauma- turgo ter segurado o Menino Jesus ao colo. Na medida em que o conhecimento qu vê Deus nas criaturas se realiza por intermédio dos sentidos físicos, porum lado,e, por outro, dado o reconhecimento da potenciação receptiva dos sentidos, valoriza-se a autêntica unidade do serhumano, desagravando oseparatismo instalado na relação corpo-espírito e rejeitando aindiferença ao mundo fenomenal.

A vida sensitiva e a experiência sensorial também sãoexpressão do dinamismo criacionista, pelo que a mística antoniana separticulariza navivência amorosa 'sen- tíente' que, como escreve Maria Cândida Pacheco, seabre à "meta-racíonalídade'P' humana, sendo impossívelseccioná-la metodologicamente eaferi-la intelectualmente.

Coloca-se a questão desaber como intensificar as potencialidades receptivas dos sentidos corporais oucomo transmutá-los para evitar aentrada do pecado, dis- torcivo edesordenador. Estando a alma subjugada aos sentidos do corpo, oprazer que eles propiciam tem que ser elucidado pela razão, sujeitando a sensualidade à compunção do coração. Todavia a razão não éuma actividade gnoseológica supera- dora do negativo sensorial, o que levaria a admitir uma ascética decálculo mental, algoincompatível com os textos antonianos. A razão, presente no ser humano, ma-

(6)Importa acrescentar que não senega oudesconfia do poder da razão, talcomo não seimpõem regras para oexercício racional rigoroso. O amor, aexemplo deS. Francisco, édeterminante em Santo António quando setem afé como referência preferencial.

(7)CF M. C.Pacheco, AÁguia eaTreva, p.46.

(8)Osentido éoestímulo do entendimento servindo de intermediário entre ocorpo ea alma: "Sensus est perCO"l'pUSad animam commeans mentis stimulatio". (cf. osermão doXVII Domingo depois dePentecostes) (9)Ver M. C.Pacheco, AÁguia eaTreva, p.62.

1// ,'NO S,IIIII1N I' 1/,11,1/1/1 (:",v/n 12r;

nífcsta privil 'gillduIII('liI(\ tl slmilitud com Deus e como tal é uma actividade espiritual ''1C'lIl" Lotu-s 'as guinte transcrição:

"Senhor,aluzdo teu rosto,aluzda graça,queestabelece em nós

a tuaimagem enos torna semelhantes a ti,estágravada em nós,isto é, impressa na razão,faculdade superior da alma, Porela somos seme- lhantes aDeus, nela está impressa aquela luz, como selo em cera"(lO).

Imagem do rosto de Deus, a inteligibilidade racional pode discernir nor- mas com valor universal para ordenar e potenciar a percepção. Segundo SantoAn- tónio, o pecado mortal entra na alma pelos sentidos corpóreos edela apenas pode sair através dapenitência.

Por similitude, a par dos sentidos corporais existem os espirituais. Écom base numa similitude funcional entre ambos que sepode falar de uma ascética de adap- tação dos sentidos espirituais ainstâncias alargadas de consciência mediante um processo purificador ou de sintonização com a vontade ordenada. Trata-s~ de um exercício que seintegra na prospecção davida interior; conjugando o sentir purifi- cado com oquerer ordenadov" epressupondo uma praxis pedagógica que ensina o serhumano aprincipiar'P o verdadeiro caminho pelo qualdeveenveredar de modo a percepcionar aluz difusiva do amor de Cristo. Este exercício é uma actividade noética e volitiva'P' essencial ao ser humano se forintegrado navida, sendo acessí-

(10)S.lI, 367: "ODomine, lumen.oultus tui, idest lumen.gratiae, quareformatur imago tua innobis, qua tibi simile summes, 'est signatum super nos,idest impressutri rationi, quae estsuperior 'Visanimae, quaDeosimiles summus, cui impressum est illud lumen, ntsigillum cerae'".

(11) este sentido éacompanhada deuma ascética moral. Anossa leitura tomou, sem contestar, um rumo di- ferente da deFrancisco daGama Caeiro. Por conseguinte não faz sentido corroborar ou discordar daseguinte afirmação. [existeI"umaprimeira fase ascética, espéciedeconquista da[elicidade suprema, evisaimediatamente oaperfeiçoamento moral dohomem, a sua elevação progressiva atéque ele,nasemelhança eimagem deDeus, reflicta, omais altamente possível, ospróprios atributos divinos e elimine asimperfeições que o abstém ao con- tacto deface a face quepodeter navisão gloriosa,finda a peregrinação terreno". (cf.Francisco da Gama Caeiro, Santo António deLisboa, Introdução aoEstudo da Obra Antoniana, Vol.I,Lisboa, Ed. do Autor,1967,p.281).

(12)Veja-se a alusão deHel~rique Pinto Rema aos três estádios deaperfeiçoamento espiritual naIntrodução aos sermões (SANTO ANTONIO DE LISBOA, Doutor Evangélico, Obras Completas, Sermões Dominicais eFestivos, 1.0 Vol.,Porto, Lello eIrmão Editores, 1987, LXXIX).

(13)Épela capacidade cognitiva da alma que o serhumano seimplicado no processo de ascese espiritual.

Criado àimagem de Deus pode edeve alimentar aesperança deviraconhecer aessência de Deus (cf.M.

Couraceiro, Sensus et Ratio, Para um Estudo doPensamento Gnoseológico em Santo António de Lisboa, Porto, 1994,pp. 83-86 [Dissertação policopiada de Mestrado em Filosofia Medieval, Faculdade de Letras da Uni- versidade do Porto]). O conhecimento daverdade alcança-se nas relações doespírito do serhumano com o seu corpo, em acção conjunta dos sentidos espirituais edainteligência. Ocorpo éque estimula a almamasé aalmaqueobriga os sentidos àsubordinação. A almamostra-se activa, enquanto ocorpo, depois decontribuir para aestimulação da mente, está completamente passivo. Aestimulação damente fazcom que esta tenha ailuminação do que superiormente viu de semelhante asi,ouseja, Deus. Éesta acção da alma que mostra oconhecimento darealidade divina egarante ao ser humano a possibilidade de serealizar como imago-dei:

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